UMA INVESTIGAÇÃO EM METAFÍSICA - E.J. LOWE (RESUMO)

 

O que se segue é um resumo do livro A Survey of Metaphysics de Edward Jonathan Lowe. O livro é composto de vinte capítulos, distribuídos da seguinte forma:  

1. Introdução: a natureza da Metafísica;

PARTE I – IDENTIDADE E MUDANÇA: 2. Identidade ao longo do tempo e mudança de composição; 3. Mudança qualitativa e doutrina das partes temporais; 4. Mudança substancial e coincidência espaço-temporal;  

PARTE II – NECESSIDADE, ESSÊNCIA E MUNDOS POSSÍVEIS: 5. Necessidade e identidade; 6. Essencialismo; 7. Mundos possíveis;  

PARTE III - CAUSAÇÃO E CONDICIONAIS: 8. Contrafactuais e condicionais; 9. Causas e condições; 10. Contrafactuais e causação de eventos;  

PARTE IV – AGENTES, AÇÕES E EVENTOS: 11. Causação de eventos e causação agencial; 12. Ações e eventos; 13. Eventos, coisas e espaço-tempo;  

PARTE V - ESPAÇO E TEMPO: 14. Absolutismo versus relacionalismo; 15. Contrapartes incongruentes e a natureza do espaço; 16. Os paradoxos do movimento e a possibilidade de mudança; 17. Tesão temporal e a realidade do tempo; 18. Causação e direção do tempo;  

PARTE VI – UNIVERSAIS E PARTICULARES: 19. Realismo versus Nominalismo; 20. O abstrato e o concreto.  

É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 

 

1. INTRODUÇÃO: A NATUREZA DA METAFÍSICA 

 

A metafísica é uma disciplina não-empírica que investiga a estrutura fundamental da realidade como um todo. Foi por acidente que a disciplina metafísica recebeu o nome que tem. Isso ocorreu porque um certo conjunto de textos de Aristóteles foram chamados de “Metafísica” por terem sido ordenados após sua obra da Física. A metafísica é um tipo de disciplina necessária e ineliminável para fundamentar qualquer empenho intelectual ou qualquer outra disciplina. Isso ocorre porque, embora haja diferentes áreas do saber, a realidade é uma unidade e essa unidade significa que todas as formas de investigação precisam ser consistentes entre si.  

Por vezes supõe-se que o relativismo apresenta uma ameaça à metafísica, já que para tal posição a verdade dependeria das épocas, sociedades e culturas. Mas defender que tudo é, em certo sentido, construído socialmente e que não há uma realidade objetiva já é uma tese metafísica. Outros defendem que a única forma viável de metafísica seria uma metafísica naturalizada, segundo a qual as perguntas sobre a natureza da realidade devem ser respondidas pelas ciências naturais. O problema é que as ciências naturais por si só não podem responder essas questões e a própria possibilidade do conhecimento científico depende de certos pressupostos metafísicos. 

Kant foi o primeiro a colocar a questão de como a metafísica é possível. Em relação a essa questão, ele se colocou em oposição a metafísica tradicional enquanto um conhecimento sobre a estrutura da realidade independe da mente. Para ele, a metafísica só seria possível no sentido de uma investigação da estrutura fundamental do pensamento racional sobre a realidade. No entanto, é importante considerar que afirmar que não é possível ter conhecimento de verdades metafísicas sobre uma realidade independente da mente já é uma tese metafísica em sentido tradicional. 

A metafísica é uma disciplina não-empírica, mas ela guarda alguma relação com o conhecimento empírico. Pode-se considerar que a metafísica é o campo de delimitação do que é possível. Assim, quando se tem um forte argumento metafísico segundo o qual uma determinada coisa é impossível de existir na realidade, então, ao considerar as evidências empíricas, devemos rejeitar interpretações dessas evidências que levem à conclusão de que esse algo impossível existe. A evidência empírica não pode ser evidência de algo que não é um elemento possível da realidade. 

Uma parte fundamental da metafísica é a ontologia que consiste em estabelecer quais categorias de entes existem e suas relações. Uma forma de fazer essa classificação é distinguir os entes em dois grupos: (1) Universais; (2) Particulares. Os Universais se subdividem em dois subgrupos: (1.1) Propriedades: vermelhidão, circularidade etc.; (1.2) Relações: parentesco, entrenicidade etc. Já os particulares se subdividem em: (2.1) Concretos; (2.2) Abstratos: conjuntos, proposições etc. Os concretos se subdividem em: (2.1.1) Coisas; (2.1.2) Eventos: explosões, colisões etc. As coisas, por sua vez, se subdividem em: (2.1.1.1) Substanciais: animais, moléculas, estrelas etc.; (2.1.1.2) Não-substanciais: buracos, sombras etc. 

 

PARTE I – IDENTIDADE E MUDANÇA 

 

2. IDENTIDADE AO LONGO DO TEMPO E MUDANÇA DE COMPOSIÇÃO 

 

O conceito de identidade é complexo, mas parece simples considerar que algo é idêntico a si mesmo e não é idêntico a tudo o mais. De acordo com a Lei de Leibniz, o que quer que seja verdadeiro sobre uma coisa é verdadeiro sobre qualquer coisa idêntica com essa coisa, porque qualquer coisa que é idêntica a essa coisa é essa própria coisa. Contudo, a questão da identidade se torna mais complexa quando consideramos o fenômeno da mudança, que se refere ao fato de que uma mesma coisa pode ser diferente em diferentes momentos do tempo. Dado isso, pode-se distinguir entre identidade numérica, que se refere ao fato de que uma coisa permanece a mesma ao longo das mudanças que sofre, e identidade qualitativa, que se refere a algo ser idêntico em termos de qualidade. Assim, uma coisa pode permanecer numericamente idêntica apesar de se tornar qualitativamente diferente ao longo do tempo. 

Um tipo de mudança diz respeito à mudança de composição, que é quando há mudanças nas partes que compõem um objeto. Um objeto composto é aquele que é composto por vários outros objetos que são suas partes. Parece-nos natural dizer que assim como uma coisa permanece numericamente a mesma apesar de passar por mudanças em suas qualidades, também parece natural dizer que uma mesma coisa pode permanecer a mesma apesar de mudanças em suas partes ao longo do tempo. No entanto, podemos ver que a questão não é tão simples quando consideramos o paradoxo do Navio de Teseu.  

O Navio de Teseu é um navio em que gradualmente algumas de suas partes são retiradas e partes novas são colocadas no lugar da antiga. Com o tempo, o navio vai ser inteiramente composto por partes que não eram as suas originais, além disso, as partes originais do navio podem ser organizadas para compor um novo navio que tem as mesmas partes que o navio original. Mas no caso, qual dos dois navios é idêntico ao navio de Teseu? 

O navio de Teseu levanta sérias dificuldades. Geralmente consideramos que um artefato pode permanecer o mesmo apesar de suas partes terem sido repostas, mas alguns consideram que há um limite de partes que podem ser mudadas em um objeto de modo que ele continue o mesmo. É importante, no entanto, levar em conta que a identidade é uma relação transitiva. Considere, por exemplo, que digamos que um objeto continua o mesmo até o limite de 5% de suas partes terem sido repostas. Dado isso um objeto a seria idêntico a um objeto b que é 5% diferente de a, mas um objeto b seria idêntico a um objeto c que é 5% idêntico ao objeto b. De acordo com a relação de transitividade, se a é idêntico a b, mas b é idêntico a c, então c é idêntico a a”, mas nesse caso c poderia ser 10% diferente de a e pelo limite de 5%, c não seria idêntico a a”. Além de arbitrário, estabelecer um limite de mudanças de composição para um objeto permanecer idêntico é algo que fere a relação de transitividade. 

Existem duas soluções radicais para o paradoxo de Teseu. A primeira solução consiste em dizer que ambos os navios são idênticos ao navio original e que o mesmo navio existe em dois lugares ao mesmo tempo. Uma segunda solução, a da separação gradual, diz que os dois navios coincidem um com o outro até o processo de renovação e remoção começar e eles se tornarem gradualmente separados. Essas duas soluções parecem logicamente coerentes, mas exigiria de nós revisar nossas concepções do senso comum. É contra o senso comum pensar que o mesmo objeto possa existir em dois lugares ao mesmo tempo ou que duas coisas possam existir ao mesmo tempo no mesmo lugar. 

No entanto, pode-se propor uma solução ao problema mais alinhada com as nossas concepções do senso comum. Primeiro, é preciso distinguir entre casos ordinários e casos paradoxais como o de Teseu. Em casos ordinários, as diferentes partes em questão são, em todos os momentos do processo, incorporadas em um único navio parcialmente desmantelado ou não são incorporadas em navio nenhum. Já no caso paradoxal, as partes do navio original são apropriadas por outro navio. Podemos propor a solução de que a partir do momento de que as partes do navio original passar a compor outro navio, elas deixam de ser partes do navio original. Assim, podemos considerar o princípio segundo o qual se partes suficientes de uma coisa são incorporadas em outra coisa, então essas partes são apropriadas por essa outra coisa e deixam de ser partes da primeira coisa. 

Outra questão que essa discussão provoca diz respeito à possibilidade de algo composto ter uma existência intermitente. Por exemplo, um relógio pode ser desmontado e depois montado de volta. Nesse caso, se poderia considerar que o objeto existe em um estado desmontado ou que objeto temporariamente deixa de existir até ele ser montado de novo. A resposta dessa questão parece depender do tipo de objeto considerado. Parece correto dizer que no caso de um artefato, ele continua existindo mesmo desmontado desde que suas partes não sejam apropriados por outro objeto. Já outros tipos de objetos, como um organismo vivo, tem uma natureza que não pode sobreviver à decomposição de suas partes. Além disso, é importante considerar o tipo de decomposição, um relógio não pode sobreviver à decomposição de seus átomos. Dado isso, parece não haver necessidade em falar de existência intermitente. 

O navio de Teseu também levanta a questão envolvendo a fusão e fissão de objetos. A fusão ocorre quando dois objetos se tornam um e a fissão ocorre quando um objeto se torna dois. Na verdade, o mais correto seria dizer que um objeto deixa de existir e então surgem dois novos objetos ou que um novo objeto é criado a partir das partes que eram de um outro objeto. Esse último caso é o do navio de Teseu, que é um caso de fissão.  

Uma fissão pode ser tanto assimétrica, em que os dois objetos produtos da fissão se relacionam de modo diferente com o objeto original (é o caso do navio de Teseu), quanto simétrica, em que os dois objetos se relacionam com o original do mesmo modo (o caso de uma ameba se dividindo em duas). Nesse último caso, parece fazer sentido dizer que a primeira ameba deixa de existir dando origem a duas amebas. Mas poderíamos perguntar por que não poderíamos argumentar que uma das amebas é idêntica à primeira, mas não sabemos qual. Isso é o que se chama de identidade indeterminada. 

Há, no entanto, um argumento contra a possibilidade de identidade indeterminada. Suponhamos, por exemplo, que é indeterminado se um dado objeto “a” é idêntico com um determinado objeto “b”. Nesse caso, a Lei de Leibniz implica que se alguma coisa é verdadeira sobre um objeto a que não é verdadeira sobre o objeto b, então a e b não podem ser idênticos. Mas dado que é indeterminado que a é idêntico com b, mas é claramente determinado que b é idêntico a b, então há algo que é verdadeiro sobre b que não é verdadeiro sobre a, logo eles não podem ser idênticos. Esse argumento pode, contudo, ser respondido observando que a indeterminação não está na relação de identidade em si, mas trata-se de uma indeterminação meramente na referência linguística. 

O problema da indeterminação pode ser ilustrado pelo paradoxo dos 1001 gatos. Suponha que haja um gato chamado Tibbles que está sobre um tapete, Tibbles possui muitos pelos, mas talvez ele esteja perdendo pelos, de modo que alguns desses pelos já foram perdidos e outros estão prestes a cair de sua pelagem. Quando um pelo já claramente se separou de Tibbles, esse pelo já não é mais parte dele, mas alguns pelos, talvez milhares deles, ainda não estão, de modo definido, nem separados nem não separados dele. Assim, considerarmos o gato como um composto por suas partes, uma alternativa seria dizer que há vários candidatos sobrepostos ao nome de Tibbles, havendo no tapete 1001 gatos diferentes. Pode-se responder a isso dizendo que, na verdade, é a relação das partes com o todo que é indeterminada, não a relação de identidade. Além disso, pode-se considerar que uma coleção de partes de um gato não é um gato, ainda que possa compor um gato. 

 

3. MUDANÇA QUALITATIVA E A DOUTRINA DAS PARTES TEMPORAIS 

 

Alguns filósofos entendem que há uma tensão entre a Lei de Leibniz e a noção de mudança qualitativa. No entanto, para lidar com essa tensão é preciso considerar em que sentido um mesmo objeto pode sofrer mudanças em suas qualidades ao longo do tempo. De acordo com uma teoria do tempo chamada de presentismo, somente aquilo que existe agora realmente existe. Somente sentenças do tipo “o objeto ‘a’ tem a qualidade ‘F’ agora” é verdadeira. Isso resolveria a tensão no sentido de colocar que dizer que um objeto tem qualidades diferentes em momentos diferentes do tempo não faz sentido, porque o único tempo real é o presente. 

No entanto, teorias que são realistas sobre outros momentos do tempo consideram a solução presentista insatisfatória e buscam considerar outras possibilidades de solucionar a tensão. Podemos considerar três possíveis soluções realistas: (i) solução predicativa: consiste em considerar o tempo como parte do que é predicado do objeto, de modo que quando atribuímos uma qualidade a um objeto o que queremos dizer é o objeto ‘a’ tem a ‘propriedade-F-no-tempo-T' ”; (ii) solução das partes temporais: consiste em dizer que a referência ao tempo é uma referência a uma parte do objeto, nesse caso ao atribuir uma qualidade a um objeto queremos dizer que “a parte-temporal-do-objeto-a tem a qualidade F; (iii) solução adverbial: consiste em que o tempo deve ser entendido como um modificador do verbo, de modo que temos que “o objeto a possuiu/possui/possuirá a propriedade F”. 

Considerar a questão da tensão entre identidade e mudança qualitativa envolve levar em conta teorias da persistência. Existem dois tipos de teoria da persistência: (i) teorias da perdurância: defendem que um objeto persiste ao longo do tempo em razão de possuir partes temporais sucessivas, sendo que apenas uma parte do objeto existe em cada momento do tempo; (ii) teorias da endurância: um objeto persiste ao longo do tempo em razão de estar presente de modo inteiro em cada momento do tempo no qual ele existe.  

A teoria das partes temporais que caracteriza a noção de perdurância permite reinterpretar a relação entre identidade e mudanças qualitativas, pois um objeto é composto por todas suas partes temporais e um objeto é idêntico a si mesmo como um todo, ou seja, considerando a composição de todas as suas partes. Além disso, essa teoria também permite entender a noção de fusão e fissão, significando apenas que por um período dois objetos podem compartilhar das mesmas partes temporais. Ela também ajudaria a preservar a noção de identidade mesmo no caso de uma pessoa viajar no tempo e encontrar a si mesma, pois o encontro é na verdade entre duas partes temporais diferentes de uma mesma pessoa. A teoria das partes temporais parece, assim, propor soluções para diferentes problemas, no entanto, ela enfrenta o problema de ser uma teoria aparentemente obscura e contrária ao senso comum. 

 

4. MUDANÇA SUBSTANCIAL E COINCIDÊNCIA ESPAÇO-TEMPORAL 

 

A mudança substancial é aquela que ocorre quando um objeto começa a existir ou deixa de existir. Uma forma pela qual uma substância individual pode passar a existir ocorre quando outros objetos se unem para formar um novo objeto. Outra forma de um objeto passar a existir ocorre quando partes já unidas que compõem um todo são rearranjadas de modo a formar um novo tipo de objeto, isso ocorre, por exemplo, quando uma estátua é criada a partir de um pedaço de bronze. No entanto, quando se considera esse caso, surgem problemas, já que parece que pelo menos por um período um mesmo objeto é ao mesmo tempo um pedaço de bronze e uma estátua de bronze. Muitos filósofos, no entanto, acham absurda a ideia de que dois objetos numericamente distintos possam coincidir perfeitamente um com o outro por um período do tempo e serem compostos exatamente pelas mesmas partes. 

Contudo, para lidar com esse problema,pode-se distinguir entre propriedades modais e propriedades históricas de um objeto. Uma propriedade histórica é aquela que um objeto possui como parte de sua história real, já uma propriedade modal é aquela que diz respeito ao que poderia ocorrer com um objeto. Assim, dois objetos que parecem coincidir perfeitamente em um período do tempo, podem diferir em relação às suas propriedades modais e históricas. Caso não houvesse essa diferença, eles teriam de ser considerados o mesmo objeto. Isso ocorre porque segundo o princípio da identidade dos indiscerníveis, dois objetos não podem possuir exatamente as mesmas propriedades. 

Alguns, no entanto, entendem que a identidade não é algo absoluto. Tais pessoas defendem a teoria dos sortais. Um sortal é um termo que denota o tipo de coisa que algo é, assim uma coisa que antes era um pedaço de bronze pode passar a ser um outro tipo de coisa, como uma estátua. Assim, a identidade não seria uma relação absoluta, mas seria sempre relativa a qual sortal que é utilizado para caracterizar algo. Dizer que algo é idêntico a outro algo é sempre uma declaração que precisa ser qualificada tendo em mente qual sortal está em questão. No entanto, alguns consideram que a teoria dos sortais, ao invés de resolver o problema da identidade, abandona a ideia de identidade, pois aquilo que a teoria denomina como uma identidade relativa ao sortal não é realmente identidade, mas talvez apenas relações de similaridade. 

A teoria das partes temporais, por sua vez, pode fornecer uma outra forma de resolver o problema de objetos que coincidem. De acordo com essa teoria, o que coincide não é o objeto como o todo, mas algumas de suas partes temporais. Assim, o pedaço e a estátua de bronze não são o mesmo objeto, o que acontece é que eles compartilham das mesmas partes temporais por um tempo. Assim, os objetos não são completamente idênticos, mas parcialmente idênticos. No entanto, considere o caso de um pedaço de bronze que passa a existir como uma estátua de bronze e que desaparece de tal modo que o pedaço de bronze e a estátua deixam de existir juntos. Nesse caso, a estátua de bronze e o pedaço de bronze compartilham das mesmas partes temporais e nesse caso parece que a teoria das partes temporais não fornece uma solução satisfatória. 

Algumas soluções radicais para o problema seria dizer que não existem estátuas, o que existem são objetos que tem formato de estátua ou que não existem pedaços de bronze, mas coisas que por um período tem formato de pedaço de bronze. Mas isso significaria dizer que tudo que existe são partículas elementares e que todos os objetos compostos que pensamos existir, não existem de verdade. Outra solução radical seria dizer que quando o pedaço de bronze se torna uma estátua, o pedaço de bronze deixa de existir, mas isso leva à estranha conclusão de que desde que um pedaço de bronze ganhe uma forma ele deixa de existir. 

A ideia de que objetos possam coincidir pode, no entanto, ser defendida se clarificarmos o que entendemos por indistinguibilidade. Parece correto dizer que o pedaço e a estátua de bronze são empiricamente indistinguíveis, isto é, eles não diferem em termos de suas propriedades perceptíveis. Uma propriedade perceptível é aquela possuída por um objeto em dado momento que pode, pelo menos em princípio, ser descoberta pela observação do objeto em um dado momento. No entanto, objetos também possuem propriedades não-perceptíveis, como as propriedades históricas e modais. Exemplos de propriedades modais são a elasticidade, a solubilidade e um exemplo de uma propriedade histórica é a propriedade, para um homem, de ter tido uma barba dez anos atrás. Assim, o pedaço e a estátua de bronze podem ser indistinguíveis em termos de propriedades empíricas, mas não de propriedades modais e históricas. 

Uma última questão que podemos considerar sobre a relação que o pedaço e a estátua de bronze têm entre si. Se considerarmos que eles não têm uma relação de identidade, então talvez seja o caso de que eles possuem uma relação de constituição: o pedaço de bronze constitui a estátua de bronze. Geralmente a constituição é entendida como uma relação assimétrica, se um objeto “a” constitui um objeto “b”, então “b” não constitui o objeto “a”. Uma forma de definir uma relação de constituição seria dizer que um objeto composto “a” constitui outro objeto composto “b” em um tempo t apenas se “a” e “b” coincidem de maneira exata em t e toda parte componente de a em t é uma parte componente de b em t, mas nem toda parte componente de b em t é uma parte componente de a em t. Por exemplo, todas as partículas do pedaço de bronze compõem a estátua, mas nem todas as partes da estátua, como sua cabeça ou braços, compõem o pedaço de bronze. 

A questão de constituição pode ajudar a pensar o caso do gato Tibbles. Tibbles, como qualquer gato normal, possui uma cauda. A cauda é um componente de Tibbles. Mas consideremos o resto do gato, ou seja, todo seu corpo menos a cauda, chamemos essa parte de Tib. Tib parece, então, ser um componente de Tibble. No entanto, gatos podem perder sua cauda sem morrer, mas se Tibbles perder sua cauda ele se tornaria idêntico a Tib. Nesse caso, como Tib, que compõe Tibbles passa a ser idêntico a Tibbles? 

Algumas soluções podem ser dadas a esse problema. Alguém que defende a teoria das partes temporais poderia dizer que que as partes temporais de Tibs e Tibbles coincidem por um período do tempo. Outra opção seria negar a existência de Tibs, já que ele foi caracterizado como o resto de Tibbles tirando a cauda, não é claro e poderíamos qualificar Tibs como uma parte genuína de Tibbles. 

 

PARTE II: NECESSIDADE, ESSÊNCIA E MUNDOS POSSÍVEIS 

 

5. NECESSIDADE E IDENTIDADE 

 

Pode-se falar de dois tipos de possibilidade: (i) possibilidade contrafactual: aquilo que poderia ter sido o caso em um dado momento do tempo em contraste com aquilo que é realmente o caso nesse momento do tempo, embora também inclua como possibilidade aquilo que é o caso; (ii) possibilidade temporal: consiste na possibilidade de mudança ao longo do tempo. Na metafísica contemporânea é comum falar de mundos possíveis, que são situações possíveis máximas. Uma situação possível máxima é aquela em que para qualquer proposição p, ou é o caso que o é verdadeiro na situação em questão ou é o caso que p não é verdadeiro. Visto que mundos possíveis são situações máximas, eles são mutuamente incompatíveis. 

Considerando a noção de mundos possíveis, podemos distinguir três modos de ser: (i) ser necessário: é aquele que existe em todo mundo possível; (ii) ser possível: é aquele que existe em alguns mundos possíveis; (iii) ser contingente: algo que existe em alguns mundos possíveis, mas não em outros. Do mesmo modo, pode-se falar em: (i) verdades necessárias: proposições que são verdadeiras em todos os mundos possíveis; (ii) verdades possíveis: proposições que são verdadeiras em alguns mundos possíveis; (iii) proposições contingentes: proposições que são verdadeiras em alguns mundos possíveis, mas não em outros. 

A noção de mundo possível pode ajudar a pensar a questão das proposições de identidade. Saul Kripke propôs o argumento contra identidade contingente, considerando que proposições de identidade são necessárias. O argumento é o seguinte: 

(1) Para qualquer objeto x, é necessariamente o caso que x é idêntico com x (necessidade da autoidentidade); 

(2) Para qualquer objeto x e y, se x é idêntico a y, então o que quer que seja verdadeiro sobre x, também é verdadeiro sobre y (Lei de Leibniz); 

(3) a é idêntico a b (suposição); 

(4) É necessariamente o caso que a é idêntico a a (segue-se de 1); 

(5) É verdadeiro de a que ele é necessariamente idêntico a a (segue-se de 4); 

(6) Se a é idêntico a b, então o que quer que seja verdadeiro sobre a também é verdadeiro sobre b (segue-se de 2); 

(7) O que quer que seja verdadeiro sobre a também é verdadeiro sobre b (segue-se de 3 e 6); 

(8) É verdadeiro sobre b que ele é necessariamente idêntico a a (segue-se de 5 e 7); 

(9) É necessariamente o caso que a é idêntico a b (segue-se de 8); 

(10) Portanto, se a é idêntico a b, então é necessariamente o caso que a é idêntico a b. 

Se esse argumento estiver correto, ele mostra que há verdades necessárias que são conhecidas a posteriori, isto é, que dependem de evidência empírica. Por exemplo, seria uma verdade necessária que a estrela da manhã é idêntica à estrela da tarde, mas isso é um conhecimento que depende de observação empírica. Alguns consideram, no entanto, que o argumento de Kripke comete petição de princípio, pois do fato de que tudo é necessariamente idêntico a si mesmo ou que a é necessariamente idêntico a si mesmo não se pode concluir que é verdadeiro de a que ele é necessariamente idêntico a a. Assumir que essa conclusão é possível já é pressupor o que se quer provar, isto é, que qualquer verdade de identidade sobre a é necessariamente verdadeira. 

Isso envolve uma discussão de proposições que envolvem identidade. Alguns filósofos defendem que descrições definidas, como “o maior planeta do sistema solar”, não cumprem meramente uma função referencial, mas possuem um conteúdo descritivo e são proposições genuínas de identidade. São proposições como essas que se defende serem necessariamente verdadeiras. Geralmente os defensores da tese de que qualquer proposição de identidade verdadeira é necessariamente verdadeira, entendem que nomes próprios são designadores rígidos. Um designador rígido é um termo que designa o mesmo objeto em todos os mundos possíveis. 

Pode-se falar assim de identidade transmundial, que consiste na identidade através de mundos, ela pode ser distinguida do que pode ser chamado de identidade transtemporal ou diacrônica, que é a identidade ao longo do tempo. A identidade transmundial também levanta a questão se um mesmo objeto poderia ser dois, pois dizer que um objeto poderia ser dois, em termos de mundos possíveis, é dizer que um objeto a em um mundo w1 é idêntico a dois objetos, b e c, em um mundo w2. Mas isso é um problema se a identidade transmundial for transitiva, pois o objeto b no mundo w2 deveria ser, por transitividade, idêntico ao objeto c nesse mesmo mundo. 

Além da questão da necessidade de identidade, pode ser colocada o problema da necessidade da diversidade, isto é, se dois objetos poderiam ter sido um. Por exemplo, se Tom e Jack são gêmeos monozigóticos, o que ocorreria em um mundo em que o zigoto que deu origem a eles não tivesse se divido: Jack e Tom teria sido idênticos? Só Jack ou Tom teriam existido? Ou, nem Jack nem Tom teriam existido, mas sim outra pessoa? O problema da identidade também pode ser pensado em termos do problema mente-corpo. Alguns defendem que somos idênticos ao nosso corpo, mas parece coerente dizer que eu poderia ter tido um corpo diferente ou que poderia até mesmo haver um mundo possível no qual eu não tenho um corpo. 

 

6. ESSENCIALISMO 

 

Uma propriedade essencial é aquela que um objeto sempre possui e que ele não poderia deixar de possuir sem deixar de existir. Pode-se distinguir dois sentidos de propriedade essencial: (i) propriedade essencial temporal: aquela sem a qual o objeto deixaria de existir; (ii) propriedade essencial contrafactual: aquela que o objeto possui em todos os mundos possíveis. Toda propriedade essencial contrafactual é uma propriedade essencial temporal, mas não o contrário. Além disso, há propriedades essenciais que mais de um objeto pode ter enquanto outras apenas um objeto possui. Uma propriedade acidental, por sua vez, é uma propriedade que um objeto possui em um dado momento, mas que ele poderia não possuir. 

Se a tese da necessidade da identidade for verdadeira, então deve existir propriedades essenciais que só um objeto possui e que garantem a identidade transmundial. O conjunto de propriedades essenciais que só um objeto possui poderia ser chamado de essência individual e uma dessas propriedades essenciais seria a propriedade que um objeto tem de ser ele mesmo, a isso denominamos como hecceidade. No entanto, é preciso que haja outras propriedades essenciais, além da hecceidade, para que possamos identificar o mesmo objeto em diferentes mundos possíveis. Alguns argumentam que uma dessas propriedades essenciais é a origem, outra candidata é a constituição.  

De acordo com a tese da constituição, se um objeto A tem uma certa constituição neste mundo, o mundo real, então ele também tem a mesma constituição original em qualquer outro mundo possível em que A existe. Já de cordo com a tese da necessidade de origem, se um objeto A se originou de uma fonte neste mundo real, então o objeto A também se origina da mesma fonte em qualquer mundo possível em que ele exista. Um argumento a favor dessa tese é o chamado de argumento dos quatro mundos: 

1.  Considere o objeto S (S1), se originou da fonte (M) no mundo real (Wo) 

2. Considere que, contrariando a tese da necessidade de origem, S1 tivesse se originado em outro mundo possível (w2) de uma origem diferente (B) e chamamos ele de (SB). Suponha que SB é idêntico a S1. 

3. No entanto, é possível que haja um mundo (w3) em que tanto S que se origina de (SM) quanto o objeto S que se origina de B (SB2) existem, semelhantes em tudo, mas tendo origens diferentes. Se perguntarmos qual dos dois é idêntico a S1, parece que é SM pois ele está mais próximo do S do mundo real por se originar da mesma fonte. Logo, SB2 em w3 não é idêntico a S1. 

4. Se SM é idêntico a S1 e S1 é idêntico a S2, por transitividade, SM é idêntico a S2. 

5. Mas considere um quarto mundo (w4), que é idêntico ao mundo w2 com exceção do fato de que (M) não existe. Neste mundo S se origina de B (SB3) e ele é idêntico a SB2 do mundo w3. No entanto, vimos que SB2 em w3 não é idêntico a S1. Logo, SB3 não é idêntico a S1. 

Os mundos possíveis podem ser considerados em termos das relações que possuem entre si. Chamamos de acessibilidade a relação entre mundos possíveis em que um mundo possível é acessível a outro apenas no caso no qual uma proposição que é verdadeira no primeiro mundo é, por essa mesma razão, possivelmente verdadeira no segundo mundo. Se negarmos que a acessibilidade seja uma relação transitiva, pode-se consistentemente dizer que há um mundo possível no qual uma proposição sobre um objeto é verdadeira, ainda que essa proposição não seja possivelmente verdadeira no mundo real. A condição que deve ser satisfeita se todo mundo possível for acessível a todo outro mundo possível é que a relação de acessibilidade entre eles seja não só transitiva, mas também reflexiva (cada mundo possível é acessível a si mesmo) e simétrica (se um mundo é acessível a outro, então o segundo também é acessível ao primeiro). 

 

7. MUNDOS POSSÍVEIS 

 

A linguagem dos mundos possíveis tornou possível construir sistemas axiomáticos formais de lógica modal que usam operadores modais de possibilidade e necessidade, sendo o operador “possivelmente” representado como “◊” e o de “necessariamente” representado por “□”. Têm-se, assim, os seguintes sistemas de lógica modal: 

(1) SISTEMA K 

Regra da necessidade: Se A é um axioma de  K, então A é necessário - A 

Axioma da distribuição: (A→B)→(AB) Se é necessário que implica B, então se necessariamente A então necessariamente B. 

Definição de possibilidade: ◊A=A : algo é possível se a negação desse algo não for necessária. 

(2) SISTEMA D: K + axioma D 

Axioma D: (A→◊A) - tudo que é necessário é possível. 

(3) SISTEMA T: K + axioma M  

Axioma M: (A→A) - o que é necessário é o caso. 

(4) SISTEMA S4 : T + axioma S4  

Axioma S4: (A□ □ A) - o que é necessário é necessariamente necessário. 

(5) SISTEMA S5: T + axioma S5 

Axioma S5: (◊AA) - se algo é possível então é necessariamente possível. 

(6) SISTEMA B: T+ axioma B 

Axioma B: - AA - se A é o caso, A é necessariamente possível. 

Há uma discussão sobre o que queremos dizer quando utilizamos a linguagem dos mundos possíveis. Alguns propõem que falar em mundos possíveis nada mais é do que um modo conveniente de reformular sentenças modais. Outros defendem o que pode ser chamado de ficcionalismo modal, segundo o qual, o mundo possível expressa de fato o conceito de um objeto de um tipo distinto, mas que é uma entidade ficcional. Há, no entanto, teorias realistas sobre mundos possíveis, algumas que consideram que eles são entidades abstratas enquanto outros entendem, como David Lewis, que mundos possíveis são universos reais isolados espacialmente, temporalmente e causalmente isolados dos demais. Tal posição é chamada de possibilismo, segundo a qual entidades possíveis também são reais e quando falamos “deste mundo real” estamos usando um indexical. Já o atualismo defende que só o mundo possível real é concreto enquanto os demais são entidades abstratas que existem no mundo real. 

 

PARTE III - CAUSAÇÃO E CONDICIONAIS 

 

8. CONTRAFACTUAIS E CONDICIONAIS 

 

Contrafactuais condicionais são aqueles que dizem como um objeto teria sido se as circunstâncias tivessem sido diferentes do que realmente foram. Nesse caso, o antecedente expressa um estado de coisas contrário dos fatos e o verbo auxiliar aparece no modo subjuntivo, de modo que tais condicionais também são chamados de condicionais subjuntivos. Alguns filósofos, entendem um contrafactual condicional como algo que envolve especificar condições de verdade, isto é, quais são as condições necessárias e suficientes para a verdade de uma sentença que tem a seguinte forma:se tivesse sido o caso que p, então teria sido o caso que q”. Utilizando a linguagem dos mundos possíveis a noção de condições de verdades de contrafactuais condicionais poderia ser colocada como: Se tivesse sido o caso que p, então teria sido o caso que q’ é verdadeiro se e somente se q é verdadeiro no mundo possível mais próximo em que p é verdadeiro”. Essa noção traz a ideia de proximidade, mas é complicado falar de qual mundo seria o mais próximo de todos do mundo real, quer porque pode haver mais de um mundo que sejam os mais próximos do nosso ou porque sempre é possível pensar um mundo ainda mais próximo do nosso. Assim, para evitar essas dificuldades, pode-se propor a seguinte reformulação: “se tivesse sido o caso que p, então teria sido o caso que q’ é verdadeiro se e somente se q é verdadeiro em todos os mundos possíveis mais próximos em q é verdadeiro”. 

Uma forma de definir proximidade seria a seguinte: “um mundo w1 é mais próximo do mundo atual que outro mundo w2 apenas se w1 é, no todo, mais similar ao mundo atual do que o mundo w2”. Ao considerar essa similaridade nem todas as proposições têm o mesmo peso, isso porque ao considerar a proximidade entre os dois mundos pode-se levar em conta tanto as leis da natureza como as matérias de fato do mundo e o que terá mais peso vai depender do propósito da comparação. Ao falar de proximidade pode haver certas ambiguidades, por exemplo, um contrafactual condicional do tipo “Se Edgar Hoover tivesse nascido na União Soviética, ele teria sido um comunista traidor”, isso é ambíguo porque nesse caso Edgar Hoover teria sido um cidadão soviético e o fato dele ser comunista não seria uma traição. 

Alguns entendem que as análises acima sobre contrafactuais condicionais ferem a relação de transitividade e, por isso, seria preciso fornecer uma reformulação, que poderia ser: “se tivesse sido o caso que p, então teria sido o caso que q’ é verdadeiro se e somente se (a) em todo mundo possível suficientemente próximo, p → q é verdadeiro e (b) ou há algum mundo possível suficientemente próximo em que p é verdadeiro ou em todo mundo possível q é verdadeiro”. A noção de “suficientemente próximo” nesse caso depende do contexto conversacional. 

 

9. CAUSAS E CONDIÇÕES 

 

É comum distinguir entre causalidade de eventos, que é quando um evento particular causa outro evento particular, de causalidade agencial, que é quando um agente causa um evento particular. Quando se considera a causalidade de eventos, dizemos que algo é a causa suficiente de um evento e quando um evento ou um conjunto de eventos cuja ocorrência torna causalmente necessária a ocorrência de e. Ao analisar a causalidade, pode-se perguntar por quais são as condições de verdade de uma sentença que tem a forma “o evento c foi a causa do evento e”. Nesse caso, no entanto, para evitar a circularidade não se pode dar uma resposta que já pressuponha a noção de causa. 

David Hume forneceu o que foi conhecido como análise humeniana da causação, segundo a qual: um evento c foi a causa de um evento e se e somente se (a) c precedeu e, e (b) c e e são, respectivamente eventos dos tipos T1e T2 de tal modo que cada evento e é seguido por um evento do tipo T2. Essa definição enfrenta problemas, como a dificuldade de determinar qual evento pertence a T1 e qual pertence a T2 e parece poder haver pares de eventos que preencham esses critérios e que não estejam causalmente relacionados. Além disso, entender a causa como aquilo que precede um efeito parece inadequado porque não há razão para pensar que não possa haver causalidade retroativa, na qual o efeito precede a causa. 

Já de acordo com a abordagem contrafactual da causação, a causalidade poderia ser analisada em termos de: “um evento c foi a causa de um evento e se e somente se c ocorreu e e ocorreu e se c não tivesse ocorrido então e não teria ocorrido”. Essa análise é inadequada porque pode haver casos em que um evento c causou um evento e e esse evento e teria ocorrido mesmo se não tivesse sido causado por c, pois poderia ter sido causado por outro evento. 

Outra forma de tentar pensar a causação é por meio de uma abordagem probabilística, segundo a qual: “um evento c foi a causa de um evento e se e somente se c ocorreu e e ocorreu, e a ocorrência de c tornou a ocorrência de e provável em algum grau”. Dado o caráter vago do grau de probabilidade que conta, pode-se utilizar a seguinte formulação alternativa: “um evento c foi a causa de um evento e se e somente se c ocorreu e e ocorreu e a ocorrência de c aumentou a probabilidade da ocorrência de e em alguma medida”. Uma forma de interpretar essa formulação é entender que dizer que a probabilidade da ocorrência de e foi aumentada em alguma medida significa dizer que “se c não tivesse ocorrido, então a probabilidade da ocorrência de e teria sido menor do que realmente foi. Essa interpretação, no entanto, tornaria essa abordagem um tipo de abordagem contrafactual da causação que já consideramos ser inadequada. 

No entanto, pode-se interpretar o aumento da probabilidade de ocorrência de e de um outro modo usando a noção de probabilidade condicional: “a probabilidade condicional da ocorrência de e dada a ocorrência de c foi maior que a probabilidade da ocorrência de e dada a não ocorrência de c. Essa interpretação, no entanto, é problemática porque a não ocorrência de um evento não é um evento. 

Outra questão envolvida na discussão sobre causação é sobre se eventos e fatos ou ambos podem ser causas e efeitos. A ideia de uma causalidade de fatos pode ser demonstrada inadequada quando se considera o argumento estilingue, que mostra que se qualquer sentença sobre causação de fatos for verdadeira, então toda sentença sobre causação de fatos que se refere a quaisquer dois fatos sejam quais forem é verdadeira, o que é absurdo. Isso ocorreria porque a causalidade é uma relação extensional, uma relação entre duas entidades independentemente de como cada uma delas é designada. O argumento do estilingue é o seguinte: 

(1) Suponha que o fato de que p causou o fato de que q é verdadeiro. 

(2) Nesse caso, p é logicamente equivalente p e a é idêntico com a”, não importa qual objeto a seja, além disso p é logicamente equivalente aa é idêntico com o objeto x, tal que p e x é idêntico com a” [(λx)(x=a&p)]. 

(3) O fato que a = (λx)(x=a&p) causou o fato que q. 

(4) O fato que a= (λx) (x=a&r) causou o fato que q. 

(5) O fato que r causou o fato que q. 

(6) O fato que r causou o fato que s. 

Uma possível resposta, no entanto, a esse argumento seria negar que tal relação é extensional, argumentando que, enquanto a causação de eventos é extensional, a causação de fatos não o é. Outra alternativa seria negar o passo de (3) para (4), pois elas dependem da tese de que a descrição definida em (3) e a descrição definida em (4) que assume seu lugar são ambos termos singulares que tem a mesma referência, isto é, o objeto a. 

 

10. CONTRAFACTUAIS E CAUSAÇÃO DE EVENTOS 

 

Há tentativas de analisar sentenças sobre causação de eventos com a ajuda com condicionais contrafactuais. De acordo com a análise contrafactual simples: “um evento c foi a causa de um evento e se e somente se c ocorreu e e ocorreu e se c não tivesse ocorrido então e não teria ocorrido”. O problema dessa formulação é que ela parece implicar que um evento pode ser parte do outro evento. Assim, uma análise contrafactual simples reformulada precisa estipular que c e e são eventos completamente distintos: “um evento c foi a causa de um evento se e somente se (a) c e e são eventos completamente distintos, (b) c ocorreu e e ocorreu, (c) se c não tivesse ocorrido, então e não teria ocorrido”. No entanto, essa formulação também é complicada porque ela parece ter a dificuldade de distinguir entre causa e efeito e entre um par de eventos que são meramente efeitos diferentes de uma causa comum. 

Outras dificuldades com a análise contrafactual simples surgem das várias formas de subdeterminação causal. Três tipos de subdeterminação causal que merecem distinção são:  

(i) Subdeterminação real: ocorre quando e tem uma outra causa d em adição a c, de tal modo que, mesmo se c não ocorreu, d ainda assim teria ocorrido e teria causado e (exemplo: quando dois assassinos atiram ao mesmo tempo para matar uma vítima e ela teria morrido mesmo se um dos assassinos não tivesse atirado);  

(ii) Preempção: ocorre quando um evento d ocorre de tal modo que embora d não é a real causa de e, se c não ocorreu, então d ainda assim teria ocorrido e teria causado e (exemplo: quando um assassino atira depois do primeiro assassino, de modo que se o primeiro assassino não tivesse atirado, o segundo teria causado a morte da vítima); 

(iii) Casos à prova de falhas: ocorre quando se c não ocorreu, então outro evento, d, que não ocorreu realmente, teria ocorrido e teria causado e (quando um segundo assassino só atiraria se o primeiro não matar a vítima). 

Em todos esses casos não é verdade que se c não tivesse ocorrido então e não teria ocorrido e, por isso, fornecem contraexemplos à análise contrafactual simples. Formas, no entanto, de tentar lidar com esses contraexemplos seria dizer que no caso da subdeterminação real, a causa é c+d e que nos demais casos o que foi causado não é o evento e’, mas um outro evento semelhante, no entanto, isso envolve uma discussão sobre o que faz parte da essência do evento, como a questão sobre se o momento do evento faz parte da sua essência, o que parece implausível. 

Pode-se, no entanto, formular uma análise contrafactual complexa da causação, segundo a qual: “um evento c foi a causa de um evento e se e somente se (a) c e e são eventos completamente distintos; (b) c ocorreu e e ocorreu e (c) uma cadeia de eventos contrafactualmente dependentes conectam c a e”. Essa análise, no entanto, parece não resolver o que pode ser chamado de casos de preempção tardia, em que o único efeito do evento c que previne a realização da cadeia de eventos contrafactualmente dependentes que conectam o evento d ao evento e é o próprio evento e. 

A análise contrafactual da causação também enfrenta a objeção da circularidade, na medida em que frequentemente é preciso apelar para considerações causais para se interpretar ou avaliar a verdade de um condicional contrafactual. Analisar a verdade de um contrafactual condicional como “se eu não tivesse deixado esta pedra cair um momento atrás, ela não teria caído no chão” depende de saber quais proposições causais são verdadeiras em mundos possíveis próximos. Isso também revela que a análise contrafactual enfrenta a objeção da objetividade, já que avaliar contrafactuais tendo em conta a comparação de proximidade de mundos possíveis é parcialmente subjetiva na medida em que está em questão o propósito dessa comparação no contexto conversacional. 

 

IV. AGENTES, AÇÕES E EVENTOS 

 

11. CAUSAÇÃO DE EVENTOS E CAUSAÇÃO AGENCIAL 

 

A causalidade agencial é aquela em que a causa de algum evento ou estado de coisas não é ou pelo menos não é somente algum outro evento ou estado de coisas, mas um agente de algum tipo. De acordo com a tese reducionista, a causalidade agencial é redutível à causalidade de eventos ou o contrário. Uma forma de analisar a causalidade agencial seria dizer que um agente A causou um evento e se e somente se há algum evento x tal que x envolveu A e x tendo causado e. Esse evento x seria uma mudança em uma ou mais das propriedades de A. Para evitar um regresso infinito, esse tipo de análise precisa supor que há ações básicas. Uma ação básica é uma ação em que o agente causa um efeito de um certo tipo diretamente, isto é, não através de um meio. A ação básica pode ser, por exemplo, um automovimento espontâneio em que um agente causa diretamente o movimento de alguma parte de seu próprio corpo. 

A ideia de causação agencial parece importante para que se possa defender a existência do livre-arbítrio, mas para isso seria importante que esse tipo de causação não fosse redutível à causalidade de eventos. Uma forma de defender a tese da irredutibilidade da causação agencial à causalidade de eventos é o uso da própria noção de automovimento espontâneo. Esse argumento poderia ser: (1) Agentes são capazes de automovimento espontâneo, que envolve um agente causando um movimento nas partes de seu corpo diretamente; (2) eventos não são capazes de automovimento espontâneo; (3) Logo, a causalidade agencial não é redutível à causalidade de eventos. 

Se de um lado não é possível explicar a causação agencial em termos de causalidade de eventos, pode ser possível explicar a causalidade de eventos em termos da causalidade agencial. Uma forma de fazer isso seria a seguinte: “um evento c causou um evento e se e somente se havia algum agente A e alguma maneira de agir X de tal modo que c consistiu em A praticando a ação X e A praticando a ação X causou e. Uma tese que pode ser defendida é a de que o conceito de causação agencial é primitivo e indefinível, mas que ele é ao mesmo tempo o produto de nossa compreensão de uma multiplicidade aberta de modos específicos pelos quais objetos individuais podem agir um sobre o outro. 

 

12. AÇÕES E EVENTOS 

 

Alguns filósofos negam a existência de eventos. Alguns que negam a existência de eventos dizem que deveríamos dizer que eventos ocorrem, não que eles existem. Quando e trata dessa discussão, é importante ter em mente o critério de comprometimento ontológico, que é o princípio que nos diz quais tipos de entidades um teórico está comprometido em entender como existentes em virtude da aceitação da verdade de uma dada teoria.  

De acordo com o critério de Quine, podemos descobrir os comprometimentos ontológicos de uma teoria por primeiro expressar a teoria na linguagem de predicados de primeira ordem e, então, determinar quais tipos de entidades devem ser admitidas como valores possíveis das variáveis vinculadas usadas em expressar a teoria se a teoria for tomada como verdadeira. Uma variável vinculada, por sua vez, é uma variável vinculada por um quantificador. Uma forma de defender a existência de eventos utilizando esse critério é desenvolver uma linguagem de predicados de primeira ordem que expressam sentenças verdadeiras sobre ações em que a verdade dessas sentenças requeira a existência de eventos como valores possíveis de variáveis de quantificação. 

Se assumirmos a existência de eventos, precisamos considerar qual é a natureza deles. Alguns argumentam que só compreendemos a natureza de entidades de uma categoria se entendemos quais as condições de identidade dessas entidades. De acordo com o critério de identidade: se x e y são entidades do tipo k, então x é idêntico com y se e somente se x e y mantêm em relação R um com o outro. Dado isso, é preciso pensar em um critério de identidade para eventos que não seja nem circular nem trivial. Uma primeira questão que pode ser colocada é se ações contam como eventos, quanto a isso parece mais correto dizer que, enquanto eventos ocorrem, ações são performadas. 

Um candidato a ser um critério de identidade de eventos é o critério causal, de acordo com ele: se x e y são eventos, então x é idêntico com y se e somente se x e y têm as mesmas causas e efeitos. Essa definição é problemática porque ela pressupõe que toda causação é uma causalidade de eventos. Além disso, ela é circular, pois dizer que os eventos x e y têm as mesmas causas e efeitos é pressupor a identidade dessas entidades que também são eventos. Para evitar esses problemas, o critério causal poderia ser reformulado como: se x e y são eventos, então x é idêntico a y se e somente se (i) para qualquer evento z, z é uma causa de x se e somente se z é uma causa de y e, (ii) para qualquer evento z, x é uma causa de z se e somente se y é uma causa de z. Essa reformulação não parece resolver o problema, pois a repetição da variável z nas cláusulas pressupõe a ideia de uma mesma variável com a mesma identidade. 

Uma sugestão de como eventos podem ser entendidos é pensar em um evento como sendo uma exemplificação de uma propriedade possuída por um objeto em um momento do tempo de modo que um objeto pode ser representado por três elementos: objeto, propriedade, tempo. Nesse caso, um critério de identidade de eventos seria um critério de triplicidade: se x e y são eventos, então eles são o mesmo evento se e somente se eles são representados pela mesma cominação de três elementos, isto é, se e somente se eles são exemplificações da mesma propriedade possuída pelo mesmo objeto em um mesmo momento do tempo. Essa compreensão, no entanto, também possui limitações, pois pode haver eventos que não envolvem a existência de um objeto particular. 

 

13. EVENTOS, COISAS E ESPAÇO-TEMPO 

 

De acordo com o reducionismo, eventos podem ser reduzidos a coisas ou coisas podem ser reduzidas a eventos. Por sua vez, conforme o eliminativismo, ou eventos ou coisas podem ser eliminados sem perda de nossa ontologia. Chamamos de ontologia de eventos, uma teoria ontológica que tenta reduzir coisas a eventos ou eliminar coisas da ontologia. Por sua vez, chamamos de ontologia das coisas a tentativa de reduzir eventos a coisas ou eliminar eventos da ontologia. Tanto a ontologia de coisas como a de eventos são ontologias monistas. Já para o pluralismo não-reducionista, coisas e eventos são duas entidades irredutíveis que devem figurar em nossa ontologia. 

Alguns argumentam que uma ontologia de eventos é mais compatível com a física contemporânea, que seria interpretada no sentido de dizer que o que concebemos geralmente como objetos persistentes são na verdade processos. Esse argumento, no entanto, parece querer definir o que as coisas são com base naquilo que é objeto de mensuração na física. Por outro lado, aqueles que propõem uma ontologia de coisas geralmente pensam em eventos como mudanças que as coisas sofrem, um tipo de mudança é o que se denomina como mudança de Cambridge, que é uma mudança puramente relacional, como a mudança que ocorre quando uma mulher deixa de ser casada e se torna viúva porque se marido morreu. Nesse caso, um evento seria uma mudança nas prioridades ou relações entre coisas. 

Alguns argumentam, por exemplo, que o movimento, que geralmente é tomado como um evento, seria na verdade uma mudança que ocorre quando duas coisas se movem uma em relação à outra. Uma alternativa, no entanto, seria conceber o movimento real como um tipo de propriedade intrínseca de um objeto que se move. Outra discussão importante diz respeito a se é possível haver tempo sem mudança. Sidney Shoemaker propôs o seguinte argumento de que poderia haver tempo sem mudança: 

1. Considere um mundo X dividido em três regiões habitadas por observadores. Todas elas experimentam um ciclo regular onde há mudança e movimento por um período e outro no qual tudo fica congelado não havendo qualquer mudança ou movimento. Assim, temos: 

Região A: congela uma vez a cada três anos.  

Região B: congela uma vez a cada quatro anos  

Região C: congela uma vez a cada cinco anos. 

Quando duas regiões estão descongeladas ao mesmo tempo, os habitantes dessas regiões podem interagir entre si. Um habitante de uma região descongelada pode também observar uma região congelada podendo calcular quanto dura o ciclo de cada região. 

2. Esse mundo X é metafisicamente possível, pois não há nada inviável em pensar o mundo em que regiões suas ficam um tempo congeladas regulamente. 

3. Mas se o ciclo é tal como descrito no mundo X, isso significa que uma vez a cada 60 anos todas as três regiões ficam congeladas simultaneamente. Nesse caso não ocorre qualquer mudança no mundo X inteiro por um período de tempo. 

4. Logo, é possível que haja passagem de tempo sem que nenhuma mudança ocorra. 

O problema desse argumento é que, se todas as coisas estão congeladas de uma só vez em um dos períodos, é difícil entender o que causa o descongelamento de pelo menos uma das regiões. Desse modo, parece que o experimento mental proposto é de um estado de coisas impossível. 

 

V. ESPAÇO E TEMPO 

 

14. ABSOLUTISMO VERSUS REALACIONALISMO 

 

O espaço aparentemente possui partes e algumas dessas partes são tridimensionais e podem ser chamados de volumes do espaço ou regiões do espaço. Essas regiões possuem superfícies, que são fronteiras bidimensionais. As superfícies, por sua vez, possuem fronteiras unidimensionais chamadas de linhas. As linhas, por sua vez, possuem fronteiras com dimensões nulas, que são chamadas de pontos. De acordo com a visão bottom-up, o espaço como um todo é, de maneira última, composto por pontos. Já conforme a visão top down, superfícies, linhas e pontos não são literalmente partes do espaço, mas limites abstratos. 

O espaço pode ser pensado tanto como finito quanto como infinito. Caso seja considerado finito, ele pode ser tanto com fronteiras, que é o caso do espaço pleno euclidiano, quanto sem fronteiras, é o caso do espaço curvo não-euclidiano. Existe, ainda, uma discussão sobre se o espaço deve ser pensado como um espaço vazio, isto é, como sendo distinto dos objetos que o preenchem, ou como um espaço pleno, em que o espaço é um pleno de matéria e energia. Isaac Newton, por sua vez, tinha a compreensão do espaço como absoluto, como algo imaterial em relação ao qual tudo se move. Ele entendia que embora não pudéssemos medir diretamente a velocidade absoluta de um objeto em relação ao espaço ele mesmo, seria possível medir a aceleração absoluta. 

Para mostrar que podemos medir aceleração absoluta Newton propôs o experimento de pensamento do balde giratório. Ele pede que imaginemos um balde cheio pela metade de água, suspenso por uma corda em um gancho. A partir disso, ele pede que consideremos três estágios: (i) primeiro estágio: o balde está suspenso sem perturbarão com a água em um estado estacionário em relação ao balde; (ii) segundo estágio: a corda é torcida algumas vezes e então solta de modo que o balde começa a girar rapidamente em um eixo vertical de modo que há um movimento relativo entre o balde e a água; (iii) terceiro estágio: a água captou o movimento de rotação do balde através do atrito entre ela e a parede do balde, de modo que agora não há mais movimento relativo entre a água e o balde.  

Nesse caso, parece que o primeiro e o terceiro estágio são iguais em não haver movimento relativo entre a água e o balde, mas diferem no fato de que no primeiro estágio a superfície da água tem uma forma plana e no terceiro uma forma curva. Isso ocorre, segundo Newton, porque no terceiro estágio a água possui uma rotação absoluta. Ernst March apresenta, no entanto, uma objeção a essa interpretação do experimento. Segundo ele, a rotação da água no balde se dá em relação ao resto do Universo material, isto é, às estrelas e galáxias que nos cercam. 

Para lidar com esse tipo de objeção, Isaac Newton apresentou o experimento de pensamento dos dois globos. Ele pede que imaginemos um Universo em que existe apenas dois globos materiais similares ligados um ao outro por um comprimento reto de corda. Inicialmente pode se supor que não há como determinar se esses globos estão girando em relação ao ponto médio da corda, já que não há nenhum objeto material em relação ao qual o movimento rotacional dos globos poderia ser medido. No entanto, parece que haveria uma diferença fisicamente detectável entre o estado em que os globos estão parados e o estado em que eles se encontram em rotação e essa diferença seria explicada porque há uma rotação absoluta em relação ao espaço ele mesmo, que deve ser algo imaterial. Esse tipo de experimento de pensamento, no entanto, parece circular, pois dizer que nesse tipo de universo haveria uma diferença fisicamente detectável já é pressupor que há um espaço absoluto que explica a tensão da corda. 

Enquanto Newton defende um absolutismo em relação ao espaço, Ernst Mach defende um relacionalismo. Existem, no entanto, diferentes tipos de relacionalismo. De acordo com o relacionalismo extremo, o espaço não existe, tudo que existe são relações espaciais entre objetos materiais. Já de acordo com um relacionalismo menos extremo, o espaço existe, mas depende para sua existência e propriedades, inteiramente dos objetos materiais que o ocupam e das relações espaciais que esses objetos têm entre si. Há, ainda, o relacionalismo modal, segundo o qual o espaço consiste em todos os lugares nos quais é possível que um objeto esteja localizado. Alguns acreditam que o relacionalismo é mais compatível com a Teoria da Relatividade de Einstein, contudo é possível encontrar formas de compatibilizar a Teoria da Relatividade com o absolutismo e é improvável que o debate sobre a natureza do espaço possa ser resolvido com bases empíricas. 

A Teoria da Relatividade também levanta questões para a discussão sobre a natureza do tempo. A Teoria da Relatividade Especial de Einstein defende a noção da relatividade da simultaneidade, segundo a qual eventos que são simultâneos em relação a um ponto de referência podem não ser simultâneos entre si em relação a outro ponto de referência. Além disso, Einstein também defende a constância da velocidade da luz no vácuo, segundo o qual a velocidade da luz no vácuo é a mesma independente do ponto de referência. É importante considerar, no entanto, que teorias da física, não importa quão forte são, não devem ter a última palavra quando se discute a natureza metafísica fundamental do espaço e do tempo. 

 

15. CONTRAPARTES INCONGRUENTES E A NATUREZA DO ESPAÇO 

 

De acordo com o absolutismo, o espaço é uma entidade unitária imaterial, uma substância, que não depende para sua existência e propriedades dos objetos materiais que porventura podem ocupá-lo. Já para o relacionalismo, o espaço é uma entidade que depende ontologicamente, para sua existência e propriedades, dos objetos materiais que o ocupam e das relações espaciais entre esses objetos. A versão mais plausível de relacionalismo é o relacionalismo modal, segundo o qual o espaço depende, para sua existência e propriedades, das leis da natureza que governam como os objetos materiais que o ocupam podem se mover um em relação ao outro. Uma terceira alternativa é o transcendentalismo, concepção defendida por Immanuel Kant, segundo a qual as coisas em si mesmas não ocupam espaço, ao invés disso o espaço é um aspecto da constituição da mente humana. 

Kant forneceu um argumento contra a concepção relacionalista do espaço conhecido como argumento das contrapartes incongruentes: 

(1) De acordo com a concepção relacionalista de espaço, o espaço não é um objeto ou substância com propriedades próprias, mas entidade ontologicamente dependente em relação aos objetos que o ocupam. 

(2) Considere, no entanto, o caso de contrapartes incongruentes. Contrapartes incongruentes são objetos assimétricos que são imagens espelhadas um dos outros, mas que não podem coincidir sem suas partes serem distorcidas (exemplo: uma mão direita e uma mão esquerda simétricas) 

(3) A razão pela qual, por exemplo, uma mão direita não coincide com uma mão espelhada tem a ver com a relação entre elas, uma possui uma lateralidade esquerda e outra possui uma lateralidade direita. 

(4) Considere agora um mundo onde apenas uma mão ocupa o espaço.  

(5) Considere em seguida que surge uma outra mão que é uma contraparte simétrica da primeira. Logo a primeira mão possui uma lateralidade enquanto a nova mão possui outra lateralidade.  

(6) No entanto, se esse é o caso, a primeira mão enquanto existia sozinha no mundo já tinha uma certa lateralidade, ela já era ou uma mão esquerda ou uma mão direita. 

(7) No entanto, antes do surgimento da mão não havia outro objeto com o qual essa mão estava em relação, tudo que havia é o espaço. Como, pois, a lateralidade da mão pode ser explicada? 

(8) Como tudo que há é a mão e o espaço, a lateralidade da mão poderia ser explicada por sua relação com o espaço ele mesmo. 

(9) Contudo, o relacionalista não pode recorrer a isso, pois para ele o espaço não é uma substância ou objeto. 

(10) Logo, o relacionalismo não tem como dar conta de como contrapartes incongruentes não podem coincidir. 

(11) No entanto, é um fato que contrapartes incongruentes não podem coincidir sem distorção (algo que pode ser visto pelo fato de que uma luva da mão direita não encaixa na mão esquerda). 

(12) Logo, a concepção relacionalista de espaço é falsa. 

Esse argumento não funciona, no entanto, se o espaço tiver a topologia de uma fita de Moebius em três dimensões, pois, nesse caso, o que chamamos de mão direita e mão esquerda não seriam, de fato, partes incongruentes. Pode ser que nosso espaço não tenha essa topologia, no entanto, se queremos discutir a natureza essencial do espaço precisamos considerar não só como o espaço é no mundo real, mas as características que o espaço essencialmente tem em todos os mundos possíveis. Isso também vale para a discussão de quantas dimensões o espaço pode ter, que podem ser mais do que o espaço tem em nosso mundo real. 

 

16. OS PARADOXOS DO MOVIMENTO E A POSSIBILIDADE DE MUDANÇA 

 

Zenão de Eleia formulou alguns paradoxos que pretendem levar à conclusão de que a mudança é em geral impossível. Consideremos alguns desses paradoxos. De acordo com o paradoxo da corrida para que A, um corredor, possa ir de um ponto X a um ponto Y ele precisa percorrer a metade desse caminho e, então, a metade da metade e, assim, infinitamente. Assim, A nunca pode alcançar o ponto Y pois para isso ele teria que cumprir infinitas tarefas similares. O paradoxo se torna ainda mais forte se pensarmos nele em uma versão invertida. Nessa versão A não pode nem sequer começar a se mover, pois há sempre uma tarefa anterior ao que seria a primeira tarefa de modo que nunca há realmente uma primeira tarefa. 

Uma forma de tentar escapar do paradoxo seria negar a divisibilidade do espaço, se o espaço não for infinitamente divisível, o paradoxo perde força. O problema também pode ser pensado considerando o problema mais geral da relação do movimento com o tempo. Por exemplo, uma variação do paradoxo do corredor é o paradoxo de Aquiles. Ele envolve considerar o caso de uma corrida entre Aquiles e uma tartaruga apostando uma corrida. Aquiles corre mais rápido que a tartaruga, mas ele deixa a tartaruga sair na frente. Podemos supor que a tartaruga começa a correr no tempo t0 e Aquiles no tempo t1. Cada vez que Aquiles percorre uma distância, a tartaruga já percorreu outra distância e isso infinitamente. A cada tempo sucessivo há uma série infinita de momentos de modo que a tartaruga está sempre à frente de Aquiles. 

Outro paradoxo que ilustra o problema da relação do movimento com o tempo é o paradoxo da flecha. Suponha que uma flecha está se movendo no ar e a cada instante o tempo durante sua passagem de um lugar a outro, a flecha ocupa uma parte do espaço que tem exatamente seu tamanho. Mas, então, como a flecha pode mudar seu lugar se a cada instante ela está completamente presente em um e mesmo lugar?  

Uma resposta a esse paradoxo é dizer que ele é baseado em uma incompreensão do que significa velocidade em um instante do tempo, pois não se pode atribuir velocidade a um objeto em um instante do tempo a menos que o objeto passe por mudanças durante um período de tempo que inclua esse instante. Essa resposta, no entanto, parece circular porque a velocidade é definida em termos da distância em que um objeto se move. Pode-se, no entanto, buscar responder ao paradoxo dizendo que a velocidade instantânea de um objeto em um tempo t é uma tendência direcional que o objeto possui em t, em virtude da qual, se ele continuar a possuir tal tendência, ele passará por mudanças subsequentes de sua posição espacial. Essa noção também pode ser usada para responder a versão invertida do paradoxo do corredor. Pode-se dizer que o corredor começar a correr em um tempo t significa na verdade que o objeto tem velocidade nula em t mas uma velocidade não nula em todos os instantes que sucedem t. 

  Por fim, um último paradoxo de Zenão que merece consideração é o paradoxo dos blocos móveis. Suponha que tenhamos três fileiras alinhadas (A, B, C) de blocos do mesmo tamanho cada uma com três blocos (a1, a2, a3; b1, b2, b3; c1; c2; c3), em que a fileira A se move para a esquerda e a fileira C para a direita enquanto a fileira B permanece parada. Considere um momento t1 em que os blocos estão alinhados e um tempo t2 em que em que o bloco a3 está alinhado ao bloco c1, como ilustra a imagem:

 



O problema que surge é: como pode ser o caso que durante o intervalo de t1 a t2, o bloco a3 passou por dois blocos C enquanto no mesmo período de tempo ele passou por apenas um bloco b apesar de todos os blocos terem o mesmo tamanho? Uma forma de tentar lidar com esse tipo de paradoxo é dizer que o espaço e o tempo, ao invés de serem discretos, são na verdade contínuos. 

 

17. TENSÃO TEMPORAL E A REALIDADE DO TEMPO 

 

Geralmente se distingue duas formas de entender uma série de eventos no tempo, uma é a série A, em que os eventos mantêm uma relação de passado, presente e futuro; outra é a série B, em que os eventos estão em uma relação de anterioridade e posterioridade. A partir disso, John McTaggart propôs o seguinte argumento a favor da irrealidade do tempo: 

(1) O tempo essencialmente envolve mudança; 

(2) Mudança só pode ser explicada em termos de expressões da série A; 

(3) As expressões da série A envolvem contradição, pois é contraditório descrever o mesmo evento como sendo tanto passado, quanto presente, como futuro; 

(4) Portanto, o tempo não é real. 

Os filósofos do tempo contemporâneos geralmente se dividem em seguir duas teorias: (i) Teoria A: aceitam a premissa 2 e rejeitam a premissa 3 do argumento; (ii) Teoria B: rejeitam a premissa 2 e aceitam a premissa 3. Uma forma de tentar lidar com o argumento de que a série A envolve contradição, seria dizer que momentos do tempo não são entidades e que, por isso, deveriam ser eliminadas de nossa ontologia. Ao invés de dizer, por exemplo, que um evento é futuro no presente momento do tempo, poderíamos dizer que um evento é presentemente futuro, será futuramente presente e será, ainda mais futuramente passado. 

Usando essa linguagem vemos que não há uma contradição em usar a série-A, porque na verdade, ao falar em presente, passado e futuro, o que de fato queremos dizer é uma conjunção de disjunções, do tipo: cada evento é tal que ele é (i) ou passadamente passado ou presentemente passado ou futuramente passado e; (ii) ou passadamente presente ou presentemente presente ou futuramente presente e; (iii) ou passadamente futuro ou presentemente futuro ou futuramente futuro. 

A teoria B do tempo, por sua vez, defende que não há fatos tensos (flexionados temporalmente), que o tempo não é tenso. A série-A, para a Teoria B, é apenas uma espécie de expressão indexical. Em razão disso, alguns consideram que a Teoria B acaba tornando a passagem do tempo uma espécie de ilusão. A discussão sobre se a passagem do tempo é real é às vezes colocada em termos da discussão entre duas concepções do tempo: (i) concepção estática do tempo: considera todos os momentos do tempo como distribuídos em uma linha na qual todas as partes são igualmente reais; (ii) concepção dinâmica do tempo: representa os momentos do tempo como tendo status ontológico diferente a depender se são passado, presente e futuro. 

Uma forma de teoria dinâmica é o presentismo, para o qual só o presente realmente existe. Alguns argumentam contra o presentismo dizendo que ele fere a relatividade da simultaneidade que faz parte da Teoria da Relatividade Especial de Einstein. No entanto, pode haver formas de tentar conciliar as duas teorias ou questionar se tal teoria da física deve mesmo ter a palavra final em discussões sobre metafísica do tempo. Quanto à concepção estática do tempo, alguns acreditam que, como ela toma o futuro como real, ela poderia implicar em uma forma de determinismo que coloca em risco a noção de livre-arbítrio. 

 

18. CAUSAÇÃO E DIREÇÃO DO TEMPO 

 

O tempo parece ter uma única direção de modo que há uma assimetria do tempo, já que ele se move sempre “para frente”. Além disso, há uma linearidade do tempo, no sentido de que o tempo não é circular, nem fechado, de modo que se um evento e1 é anterior a um evento e2, então o evento e2 não é anterior ao evento e1. Com base na ideia de que a ordem temporal sempre se move em uma direção, alguns argumentam que na causação a causa sempre precede temporalmente seu efeito. No entanto, é importante dizer que nada impede que não possa haver algo como uma causação retroativa em que um evento posterior causa um evento posterior, algo que poderia acontecer se a viagem no tempo for possível. 

Em relação à viagem no tempo, alguns argumentam que ela seria impossível, pois envolve alguns paradoxos. Um desses paradoxos é o paradoxo do avô, em que uma pessoa viaja no passado e mata seu avô impedindo que seu pai nasça. Esse paradoxo, no entanto, mostra apenas que se viagem no tempo for possível, não se pode alterar o passado, mas não prova que alguém que viaja para o passado não possa afetar causalmente o passado. Uma dificuldade maior, no entanto, é apresentada pelo paradoxo de bookstrap, em que uma pessoa poderia, por exemplo, viajar no passado e entregar um livro para alguém de modo a criar um loop informacional em que o livro existe sem precisar ter sido escrito por alguém e isso abriria a possibilidade de que a Segunda Lei da Termodinâmica fosse violada sistematicamente. 

 

PARTE VI – UNIVERSAIS E PARTICULARES 

 

19. REALISMO VERSUS NOMINALISMO 

 

Uma forma de distinguir universais de particulares é por meio da ideia de instanciação em que cada particular instancia ou é uma instância de algum universal. No entanto, os universais podem, por sua vez, serem instância de outros universais, de modo que seria possível falar de universais de segunda ordem, o que permite distinguir entre propriedades de primeira ordem e propriedades de segunda ordem. Alguns filósofos defendem que podem, no entanto, existir universais contingentemente não-instanciados, que seriam universais que não possuem instâncias. Há, ainda, quem defenda haver universais necessariamente sem instâncias, como o caso de ser um círculo quadrado. 

De acordo com os nominalistas, só particulares existem, enquanto realistas defendem que os universais existem. De acordo com o nominalismo de semelhança, um particular pertence a uma classe de particulares x se e somente se o particular em questão pertence a uma certa classe de semelhança entre particulares. Uma forma de definir essa semelhança de modo a evitar uma circularidade é utilizar a ideia de classe máxima, que é uma classe que não é uma subclasse de nenhuma outra classe de semelhança. Além disso, o critério de semelhança envolve que os objeto dentro de uma mesma classe sejam semelhantes entre si mais do que ou pelo menos o mesmo tanto que os objetos que não pertencem à classe. 

O nominalismo de semelhança enfrenta problemas que aparecem quando consideramos o seguinte caso. Suponha um universo que contém apenas cinco objetos, S1 ao S5 e suponha que cada um deles tenha um tamanho (grande ou pequeno), um formato (circular ou quadrado) e uma cor (azul ou vermelho), conforme mostra a tabela: 

 

Característica 

S1 

S2 

S3 

S4 

S5 

Tamanho 

grande 

pequeno 

grande 

pequeno 

pequeno 

Formato 

redondo 

quadrado 

quadrado 

redondo 

redondo 

Cor 

azul 

vermelho 

azul 

vermelho 

azul 

 

Parece que, nesse caso, S1, S3 e S5 são a classe dos objetos azuis. No entanto, enquanto S3 e S5 são semelhantes apenas na cor, S4 e S5 são semelhantes tanto na cor quanto no formato, de modo que S5 é mais semelhante a um objeto fora da classe do que dentro da classe. Consideremos, agora, o que ocorre se eliminarmos o objeto S1, de modo a termos o seguinte cenário: 

Característica 

S2 

S3 

S4 

S5 

Tamanho 

pequeno 

grande 

pequeno 

pequeno 

Formato 

quadrado 

quadrado 

redondo 

redondo 

Cor 

vermelho 

azul 

vermelho 

azul 

 

Consideremos, nesse novo cenário, o caso da classe dos objetos vermelhos que são S2 e S4, essa classe, no entanto, é uma subclasse da classe dos objetos pequenos, que é composta por S2, S4 e S5, de modo que ela não é uma classe máxima. Esse problema é chamado de problema dos interligados. Consideremos, agora, um cenário ainda pior, que é aquele no qual só existem os objetos S2, S3 e S5: 

Característica 

S2 

S3 

S5 

Tamanho 

pequeno 

grande 

pequeno 

Formato 

quadrado 

quadrado 

redondo 

Cor 

vermelho 

azul 

azul 

 

Nesse cenário, S2, S3 e S4 formam uma classe máxima no sentido de que é uma classe de particulares na qual qualquer par entre eles é semelhante um ao outro pelo menos o mesmo tanto do que um particular fora da classe, já que não há nenhum particular fora da classe. No entanto, esses objetos não têm nenhum tamanho, formato ou cor que seja comum a todos eles. A isso se dá o nome de problema da comunidade imperfeita. 

Uma outra teoria sobre a relação entre universais e particulares, é a Teoria dos Pacotes, segundo a qual, particulares são combinações de universais. Essa proposta, no entanto, é implausível, já que esses pacotes poderiam ser entendidos como particulares abstratos. Além disso, ela parece contradizer o princípio da identidade dos indiscerníveis, pois parece logicamente possível que haja dois particulares que exemplifiquem todos e os mesmos universais, como duas esferas materiais similares em um universo em que só elas existem.  

Uma alternativa à Teoria dos Pacotes é a Teoria dos Tropos, segundo a qual cada propriedade de um objeto é uma propriedade particular (um tropo) que só aquele objeto possui e o que chamamos de universal é uma classe de tropos que obedece ao critério da semelhança, isto é, que os tropos e mesma classe se assemelham entre si pelo menos do mesmo tanto que se assemelham a um tropo que não faz parte da classe. O nominalismo de semelhança de tropos parece ser a forma mais promissora de nominalismo. É importante, no entanto, considerar que a própria semelhança poderia ser tomada como um universal e isso pode criar problemas para qualquer teoria nominalista que faz uso da noção de semelhança. 

 

20. O ABSTRATO E O CONCRETO 

 

Uma forma de distinguir um objeto abstrato de um objeto concreto seria utilizar o critério espaço-temporal, segundo o qual um objeto concreto é aquele que ocupa lugar no espaço e no tempo e um objeto abstrato é aquele que não existe nem no tempo nem no espaço. Outro critério que pode, no entanto, ser utilizado no lugar ou em adição a esse é o critério causal, segundo o qual objetos concretos são aqueles que são capazes de entrar em relações causais, enquanto um objeto abstrato é aquele incapaz de ter eficiência causal.  

Essa questão da causalidade, no entanto, cria o problema de pensar como um objeto abstrato poderia ser conhecido já que, de acordo com a teoria causal do conhecimento, são os objetos que causam nossas crenças e conhecimento sobre eles. Uma resposta a esse problema é negar a teoria causal e dizer que podemos conhecer certas coisas por meio do raciocínio sem envolver a percepção do objeto. Um argumento a favor da existência de objetos abstratos é o argumento da indispensabilidade dos objetos abstratos, por exemplo, a existência de entidades matemáticas parece pressupostas em nossas teorias científicas. Há ainda quem defenda que as leis da natureza precisam ser compreendidas como uma relação entre universais abstratos, como força, massa e distância que possuem instâncias particulares. Outros entendem também que mundos possíveis, classes e proposições são objetos abstratos. 


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