O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO - SIGMUND FREUD (RESUMO)


O que se segue é um resumo do livro O Mal-estar na Civilização de Sigmund Freud. O livro mostra como a vida em sociedade nos causa infelicidade na medida em que a civilização reprime nossos desejos sexuais e agressivos. O resumo se divide em quatro partes, a primeira trata da constituição do ego e mostra como a religião de alguma forma tem sua origem em sentimentos de uma fase primitiva do ego, a segunda parte considera o fracasso da religião em nos tornar felizes, a terceira parte mostra como a restrição sexual produz sofrimento e a quarta e última parte trata da repressão da hostilidade humana natural e da origem de nossos sentimentos de culpa. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. A CONSTITUIÇÃO DO EGO 

O pensamento moderno propôs que nada era mais certo do que o nosso Ego, esse Ego nos aparece como autônomo, unitário e bem demarcado. Mas essa é uma aparência enganosa, o Ego não possui uma fronteira nítida, sendo, na verdade, um prolongamento do Id, no entanto, a fronteira entre o Ego com o mundo externo já é mais definida, a não ser em casos patológicos.  
percepção adulta de um ego definido é algo que surge a partir de um certo desenvolvimento. O bebê ainda não separa seu ego do mundo externo, é somente num momento posterior que o ego é contraposto a um objeto que se encontraria fora dele. No início o ego abarca tudo, sendo todo-abrangente, num segundo momento surge uma delimitação entre o ego e seu entorno. 
percepção do mundo exterior vem acompanhada da busca pelo indivíduo de isolar tudo que possa se tornar fonte de desprazer para ele, enquanto aquilo que é fonte de prazer é tomado como objeto de desejo. Assim, a delimitação do ego em relação ao mundo externo se forma na medida em que o ego busca se proteger das ameaças do mundo externo. O fato do ego utilizar, para se defender de ameaças do mundo externo, os mesmos métodos usados contra excitações desprazerosas vinda do interior, torna-se a fonte de significativos distúrbios patológicos. 
sentimento primitivo em que o ego se percebia como constituindo a totalidade, como abrangendo tudo, pode se conservar e esse sentimento de totalidade pode se manifestar em determinados sentimentos religiosos, de unidade com o Cosmos. Os sentimentos religiosos também podem remontar a um desamparo infantil. 

II. INVESTIGAÇÃO SOBRE A FELICIDADE 

O indivíduo religioso vê Deus como um grandioso Pai, o que remonta a uma atitude infantil de buscar uma proteção paterna e é impressionante que homens estudados busquem defender essa ideia claramente infantil. A religião é, na verdade, um paliativo que ajuda o ser humano a suportar as duras dores impostas pela vida. 
A religião, no entanto, não é o único paliativo que existe para suportar as dores deste mundo. Podemos falar de três recursos ao qual o ser humano recorre a fim de tornar sua existência neste mundo mais suportável: (i) diversões: as diversões permitem que não nos importamos tanto com nossa miséria; (ii) gratificações: as gratificações, como a arte, servem como substituições que diminuem nosso sofrimento; (iii) substâncias inebriantes: o uso de determinadas substâncias entorpecentes  nos tornam insensíveis a certas dores. 
Os religiosos, por vezes, argumentam que a religião é importante para dar um “sentido” para a vida. No entanto, a ideia de que a vida precisa ter um sentido parte de um sentimento de soberba do ser humano em se achar especial, ninguém fala sobre o sentido da vida dos animais e se alguém fala algo, como que a finalidade dos animais é nos servir, novamente o faz baseado na soberba humana. A ideia de que a vida tem um sentido existe em função do sistema religioso. 
O ser humano busca na religião a felicidade, a vivência de fortes prazeres. Desse modo, a ideia de um sentido para a vida existe em função do programa do princípio de prazer. O princípio de prazer domina o funcionamento do aparelho psíquico, mas está em desacordo com as exigências da realidade. A nossa própria constituição restringe as nossas possibilidades de felicidade, de modo que a felicidade plena é impossível, toda a natureza a contraria, de modo que poderíamos dizer que, se o Universo foi “criado”, a felicidade humana não estava no plano do Criador. 
O sofrimento, por outro lado, nos atinge de diversas fontes: (i) do nosso corpo: fadado ao declínio e à dissolução e que experimenta a dor e o medo; (ii) mundo externo: que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas, inexorável e destruidoras; (iii) relação com o outro: os sofrimentos que surgem de nossas relações com outros seres humanos talvez sejam as mais dolorosas e a família, as normas sociais e o Estado falham em nos proteger do sofrimento causado nessas relações. 
Um meio que o aparelho psíquico se utiliza para afastar o sofrimento é a sublimação através da qual se obtém prazer a partir do trabalho psíquico e intelectual. No entanto, mesmo as satisfações que são possíveis de alcançar por meios como esse são insuficientes e limitadas. Assim, as medidas adotadas pelo ser humano não podem assegurar uma completa proteção contra a infelicidade. 
Uma outra forma adotada por alguns para afastar o sofrimento consiste em simplesmente se isolar, rompendo todos os laços, como faz um eremita. Para alguns a realidade pode ser tão dolorosa e ameaçadora que ela é substituída por um delírio e podemos considerar a religião como uma espécie de delírio. 
De qualquer modo, o programa de ser feliz, que nos é imposto pelo princípio de prazer, é irrealizável, é impossível alcançar tudo o que desejamos. A felicidade constitui um problema de economia libidinal, cada um acaba por ter de escolher sua forma particular de ser feliz, calculando os custos e benefícios de sua escolha. 
A religião estorva essa atitude madura de escolher sua forma de ser feliz pois ela impõe a todos o mesmo padrão de felicidade, rebaixando o valor da vida, deformando delirantemente a realidade e tendo por pressuposto a intimidação da inteligência e à fixação de um infantilismo psíquico. No entanto, a própria religião é incapaz de dar o que promete, porque a religião não faz o ser humano feliz, simplesmente o torna submisso. 

III. A REPRESSÃO DA SEXUALIDADE 

O ser humano se torna neurótico porque não pode suportar a medida de privação que a sociedade lhe impõe, desse modo sentimos um mal-estar vivendo em civilização. A civilização designa a inteira soma das realizações e instituições que nos elevam acima da animalidade e que têm como finalidade a proteção contra os perigos da natureza e a regulação das relações humanas. 
Apesar de todos os avanços tecnológicos, intelectuais, artísticos e científicos e outras conquistas de nossa cultura, ainda nos sentimos infelizes. O ser humano quando percebeu que obtinha prazer a partir do estímulo genital, primeiro buscou a felicidade nas relações sexuais, colocando o erotismo genital no centro da vida. No entanto, isso também foi causa de sofrimento, porque o amor sexual também abre a possibilidade para o sofrimento de ser desprezado, perder ou ser atraído pelo objeto amado. 
O amor sexual forma a base para o surgimento da família. Mas logo na fundação da civilização o tabu do incesto já aparece para interditar o amor sexual entre parentes. A necessidade econômica de que a sociedade invista energia em atividades como o trabalho também fez com que essa sociedade criasse mais leis restritivas em relação ao sexo. As restrições sexuais alcançaram seu ponto mais alto de evolução na Europa moderna, que desaprova as manifestações sexuais infantis, chegando a negar a própria existência dessas manifestações, que reduz a escolha do objeto sexual só ao sexo oposto e que proíbe as satisfações extragenitais. Essas restrições exageradas são uma grave injustiça, porque impõem um padrão uniforme de sexualidade e priva um número considerável de pessoas do prazer sexual simplesmente por causa de suas constituições. 
Mas mesmo aqueles a quem é permitido viver sua sexualidade, como os heterossexuais, só lhes são permitidos vivê-la no contexto do casamento monogâmico. Esse tipo de restrição é algo extremo e se demonstrou inexequível, produzindo uma sociedade hipócrita, que simplesmente fecha os olhos para transgressões que segundo a norma moral da cultura deveriam ser punidas. As frustrações da vida sexual são intoleráveis para o neurótico. O neurótico cria em seus sintomas satisfações substitutivas que na realidade lhe causam sofrimento.  

IV. A REPRESSÃO DA AGRESSIVIDADE 

O Cristianismo ensina que devemos amar ao próximo, no entanto, o outro se nos mostra como digno de ódio, o mandamento cristão está em contradição com o fato de que somos dotados de pulsões de poderosa agressividade. A existência dessa agressividade faz com que a civilização tenha que despender bastante energia para se proteger da ameaça de desintegração diante da mútua hostilidade entre os seres humanos. 
Apesar de todos os esforços da sociedade para conter a agressividade humana, eles são insuficientes, os comunistas acreditam que a abolição da propriedade privada poderia solucionar esse problema, no entanto, a agressividade não foi criada pela propriedade. De qualquer modo, não é só a repressão da sexualidade que torna infeliz a vida em sociedade, mas também a repressão da agressividade. 
Aqui fica claro que não temos só a pulsão sexual, também possuímos uma pulsão de destruição, a pulsão de morte. A inclinação para a agressividade é, no ser humano, uma disposição pulsional original. A evolução da civilização representa a luta entre a pulsão de vida e a pulsão de morte, a civilização constitui um processo a serviço da pulsão de vida, cujo propósito é combinar indivíduos humanos isolados na unidade da humanidade. 
A agressividade que é suprimida pela civilização não desaparece, ela na verdade acaba por ser dirigida contra o próprio ego através do superego, que põe a agressividade em ação contra o ego com a mesma severidade que o ego teria gostado de satisfazer sobre o outro. A civilização, assim, conseguir dominar de alguma forma o desejo de agressão do indivíduo estabelecendo no interior dele uma instância moral que o vigia. 
É o superego que atormenta o indivíduo com o sentimento de culpa. O superego é a interiorização das imposições de uma autoridade externa e o medo dessa autoridade se converte em culpa. Nenhum desejo pode ser escondido do superego, de modo que não só as ações, mas até as intenções, são por ele vigiadas e punidas. 




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