O SÍMBOLO DA TRANSFORMAÇÃO DA MISSA - JUNG (RESUMO)


O que se segue é um resumo do texto O Símbolo da Transformação da Missa de Carl Gustav Jung que faz parte da obra Psicologia da Religião Ocidental e OrientalJung observa que a missa é um mistério cujos primórdios remontam aos primeiros tempos do Cristianismo. Seu estudo, feito de um ponto de vista puramente fenomenológico, está dividido em quatro partes: (i) Estrutura da missa: observações a respeito da missa e algumas observações a respeito de sua estrutura e significado; (ii) As diversas partes do rito de transformação: exposição das diversas fases do ritual da missa; (iii) Paralelos do mistério da transubstanciação: paralelos do simbolismo do sacrifício e da transformação cristã na visão de Zósimo e; (iv) Psicologia da Missa: discussão do sacrifício e da transformação, do ponto de vista psicológico. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. ESTRUTURA DA MISSA 

A missa é uma celebração eucarística extremamente elaborada, cuja estrutura é: (i) antemissa preparação dos dons, levam-se ao altar o pão e o vinho com água; (ii) oblação:  mistura da água com o vinho e oferta do cálice; (iii) consagração: consagração da hóstia e do vinho; (iv) comunhão: distribuição da hóstia; (v) pós-missa: saudação, avisos, bênção final e despedida. Na missa misturam-se duas representações distintas: (i) sacrifício (thysia): a oferenda consumida é elevada a Deus através da fumaça que sobe dela. (ii) ceia (deipnon):   ceia abençoada na qual se come o sacrifício. 

II. AS DIVERSAS PARTES DO RITO DA TRANSFORMAÇÃO 

As partes do rito da transformação são: (i) oblação do pão: o sacerdote levanta a hóstia colocada sobre a patena, em direção à cruz do altar, e em seguida faz um sinal da cruz com a patena e a hóstia sobre o corporal; (ii) preparação do cálice: mistura-se um pouco de água com vinho; (iii) elevação do cálice no momento do ofertório: suspensão do cálice que prepara a espiritualização (volatização) do vinho; (iv) incensação das oferendas e do altar: o sacerdote faz três sinais da cruz com o turíbulo (incensório) sobre a oferenda e traça três círculos em torna das mesmas, dois da direita para a esquerda (o que corresponde do ponto de vista psicológico a um movimento em direção ao inconsciente) e outro da esquerda para a direita (psicologicamente em direção à consciência), depois disso segue-se uma complicada incensação do altar; (v) epiclese: o sacerdote pede que o Espírito Santo desça sobre a comunidade e sobre as oferendas do pão e do vinho; (vi) consagração: consagração do pão e do cálice; (vii) grande elevação: o sacerdote levanta as substancias consagradas e as apresenta à comunidade reunida; (viii) pós-consagração: faz-se a oração “Supplices”, na qual pede-se a Deus que ele faça levar o sacrifício pelas mãos do anjo ao altar sublime; (ix) conclusão do cânon: o sacerdote faz três sinais da cruz com a hóstia sobre o cálice, enquanto pronuncia as palavras “Per ipsumet cum ipsoet in ipso”, em seguida traça outras três cruzes entre ele e o cálice; (x) embolismo e fração: Reza-se uma prece pedindo a Deus que nos livre do mal, depois se divide a hóstia em duas partes sobre o cálice; (xi) consignatio: o sacerdote traça uma cruz com uma partícula da metade esquerda da hóstia sobre o cálice e, em seguida, deixa-a cair no vinho; (xiicommixtio: mistura do pão e do vinho. A missa representa, ao longo dessas diversas ações rituais, a vida e a paixão do Senhor, sob forma condensada. 

III. PARALELOS DO MISTÉRIO DA TRANSUBSTANCIAÇÃO 

Encontramos paralelos do símbolo da transformação da missa na visão de Zósimo. Zósimo de Panópolos foi um filósofo materialista, gnóstico e alquimista do século III. O texto da visão é o seguinte: 

“E dizendo isto, adormeci e um sacerdote sacrificante apareceu diante de mim, em cima de um altar que tinha a forma de uma coluna achatada. O altar tinha 15 degraus, pelos quais se chegava até ele. O sacerdote estava ali, de pé, e ouvi uma voz vinda do alto, que me dizia: ‘Vê, eu desci os 15 degraus das trevas e subi os 15 degraus da luz. E foi o sacerdote quem me renovou, libertando-me da espessura do corpo, e eu fui santificado pela força do destino, e eis-me agora na plenitude, transformado em espírito’. Ouvi a voz daquele que estava sobre o altar, e disse a mim mesmo: vou perguntar-lhe quem é. E ele me respondeu com voz delicada, dizendo: ‘Eu sou o Ion, o sacerdote dos santuários escondidos e mais interiores, e me submeto a um tormento insuportável. Com efeito, alguém veio às pressas, de madrugada, subjugou-me e me traspassou com uma espada e me dividiu em pedaços, mas de tal maneira, que a disposição de meus membros continua harmoniosamente como antes. E arrancou a pele de minha cabeça com a espada que ele vibrou com força e recolheu os ossos com os fragmentos de carne, queimando tudo no fogo com a própria mão, até que percebi me haver transformado em espírito. Este é o meu tormento insuportável.’ Enquanto falava e eu o obrigava a fazê-lo, seus olhos se tornaram de sangue. Eu o vi transformar-se num homenzinho (homúnculo) que perdera uma parte de si mesmo (homenzinho mutilado e diminuído). E arrancava pedaços de sua carne com os próprios dentes e desmaiava.” 

Podemos ver os seguintes paralelos com o sacrifício da missa: (i) o sacerdote executor do sacrifício se submete voluntariamente ao tormento: o sacerdote se entrega ao processo de transformação; (ii) há uma “ceia” (deinon): na visão de Zósimo, o homenzinho come sua própria carne; (iiihá um sacrifício (thysia): na visão de Zósimo, o sacrifício é queimado sobre o altar; (ivhá uma espiritualização do sacerdote sacrificante: uma transformação em espírito; (v) sacrificante e sacrificado se identificam: o sacrifício e o sacrificado constituem uma só pessoa; (vi) há uma fragmentação do sacrificado: a vítima sacrificada é partida em pedaços. 

IV. PSICOLOGIA DA MISSA 

Podemos considerar os seguintes elementos a fim de entendermos o significado psicológico do sacrifício da missa:  

(1) as oferendas: o símbolo do pão e do vinho apresenta várias camadas de significado: (i) como produtos agrícolas; (ii) como produtos resultantes de uma preparação especial, o pão, proveniente do trigo, e o vinho, proveniente da uva; (iii) como expressão de um desempenho psicológico (esforço, paciência, devotamento, etc.) e de energia vital humana, de modo geral; (iv) como manifestação do maná ou do demônio da vegetação;  
(2) o sacrifício: aquilo que se sacrifica sob as figuras do pão e do vinho é a natureza, o homem e Deus, reunidos na unidade do dom simbólico, a identidade entre o doador e o dom oferecido representa a capacidade de autossacrifício e revela que nos possuímos a nós mesmos, que podemos renunciar ao nosso próprio eu no sentido de sacrificar a nossa pretensão egoística. 
(3) o sacrificante: O si-mesmo é o sacrificante e a vítima sacrificada é o eu; o si-mesmo, nos compele ao autossacrifício, realizando o ato sacrificial em si próprio; 
(4) o arquétipo do Sacrificador: no arquétipo do Sacrificador, está representado o humano como personalidade total, o Si-mesmo, o rito de transformação representa o processo de individuação, o processo de tornar-se um ser único, uma totalidade integrada.  


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