HISTORICIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO
Geralmente quando se estuda a confiabilidade das Escrituras, enfatiza-se os argumentos manuscritológicos a favor do Novo Testamento, bem como as evidências da ressurreição. Não obstante, se fala menos do Antigo Testamento. Assim, segue-se agora uma condensação das evidências apresentadas por Geisler (2015) para a historicidade do Antigo Testamento e dos fatos nele relatados. A historicidade do Antigo Testamento é corroborada pela confiabilidade dos manuscritos veterotestamentários e dos relatos de seus autores.
CONFIABILIDADE DOS MANUSCRITOS
VETEROTESTAMENTÁRIOS
Há uma grande abundância de manuscritos
do Velho Testamento. No século XVII, Kennicott apresentou uma lista de 615
manuscritos e Giovani de Roseli, uma de 731 manuscritos. Em 1890 foram
encontrados 10.000 manuscritos em Genizá e em 1947 encontrou-se 600 manuscritos
no mar morto. A segunda coleção de Firkowitch de Leningrado contém 1582 itens
da Bíblia e dos massoretas. O texto hebraico padronizado do Antigo Testamento
produzido por escribas judeus entre os séculos V e IX é chamado de “Texto
Massorético”.
Embora a maior parte dos manuscritos
veterotestamentários datem entre os anos 800 a 1.100 d.C., algumas cópias
recebem uma datação até mesmo anterior a feita por liberais. Os rolos do Mar
Morto datam do século III a.C. e o Papiro de Nash está entre o século II a.C. e
o século I d.C. Os grandes manuscritos do Antigo Testamento são:
- Oriental 4445: Contém a maior parte do Pentateuco.
- Códice do Cairo: Contém a maior parte do restante do Antigo Testamento.
- Códice de Leningrado: Contém todo o Antigo Testamento.
- Códice Babilônico: Contém os Profetas posteriores.
- Códice Reuchlin: Contém os profetas.
A precisão dos Manuscritos do Antigo
Testamento pode ser reconhecida devido às rígidas regras às quais estavam
submetidos os copistas. Pode-se averiguar essa precisão pela correspondência
das passagens paralelas (2Reis 18-20 – Isaías 36-39; Isaías 2.2-4 – Miquéias
4.1-3 e Jeremias 52 – 2 Reis 25), e pela comparação com a LXX (250 a.C.) e o
Pentateuco Samaritano (séc. IV a.C. ou II a.C.). Quando se compara o Texto
Massorético com os manuscritos do Mar Morto, mesmo tendo uns 1.000 anos de
distância, há uma identidade de 95% entre eles. Isto é, não houve mudanças
significativas mesmo depois de mil anos de cópias.
CONFIABILIDADE DAS HISTÓRIAS DO
ANTIGO TESTAMENTO
·
Historicidade
de Adão e Eva
A Bíblia apresenta Adão e Eva como
pessoas literais (Gênesis 1 – 2), que tiveram filhos literais (Gênesis 5.1),
aparecendo em listas genealógicas de pessoas literais (1 Crônicas 1.1; Lucas
3.38) e citados por Jesus (Mateus 19.4-5) e por Paulo (Romanos 5.14; 1
Coríntios 15.45; 1 Timóteo 2.13-14) como pessoas reais. Logicamente era
necessário que um casal humano, de macho e fêmea, desse origem a raça humana.
Alguns dizem que Gênesis 1 – 2 não pode
ser interpretado literalmente por ser um relato poético. No entanto, Gênesis 1
não é a forma típica de poesia hebraica em comparação com Salmos e Provérbios e
Gênesis 2 não apresenta paralelismo poético. Outros dizem que o relato de
Gênesis contradiz a Teoria da Macroevolução, mas esta não foi ainda cabalmente
comprovada por evidências científicas.
Há uma teoria que diz que Adão apareceu
na terra por volta do ano 4.000 a.C. e que isso contradiz o fato de o primeiro
fóssil humano ser anterior a 10.000 a.C. Sobre isso, é importante observar que
a ideia de que Adão viveu por volta do ano 4.000 a.C. está baseada no pressuposto equivocado de que não existam lacunas nos relatos genealógicos de Gênesis 5 e
11. Ainda, sobre o fóssil humano ser anterior a 10.000 a.C. está pressuposto
que o método de datação de fósseis primitivos é preciso, que o fóssil mais
antigo com características humanas seja mesma de um humano com alma e que ferramentas provam
necessariamente a humanidade de uma criatura. Todas essas pressuposições são
questionáveis.
·
Historicidade
do Dilúvio
O relato do Dilúvio é apresentado como um
registro histórico (Gênesis 6.9;10.1), com localizações identificáveis (Gênesis
8.4; 10.9-12), cujos personagens aparecem em registros genealógicos posteriores
(1 Crônicas 1.3,4) e considerado histórico por Isaías (54.9), Ezequiel
(14.14,20), Jesus (Mateus 24.37-38), pelo autor aos Hebreus (11.7) e por Pedro
(1Pedro 3.29; 2 Pedro 2.5; 3.5-13).
Alguns creem que o Dilúvio foi restrito
a uma região, argumentando que (i) a
expressão "mundo inteiro" na Bíblia pode se referir a uma área restrita
(Atos 2.5), (ii) que depósitos de sedimentos de um Dilúvio similar ao bíblico
são encontrados só no vale da Mesopotâmia e que (iii) haveria problemas
astronômicos com a rotação da Terra no caso de um Dilúvio Global.
Outros argumentam a favor de um Dilúvio
Universal, observando que : (i) se o Dilúvio fosse restrito, a ordem divina
para tomar os animais seria sem sentido, (ii) a Bíblia diz que toda a Terra foi
repovoada pelos que estavam na arca e (iii) existem evidências geológicas de um
Dilúvio global.
No caso de um Dilúvio Universal, os seus
defensores precisam lidar com alguns problemas, como a capacidade da arca, da
sua resistência diante de uma enchente violenta e sobre a sobrevivência a um
longo período de tempo. Sobre o primeiro problema observam que a arca tinha uma
capacidade de carga de quase meio milhão de metros, que o conceito de ‘espécies’
da Ciência Moderna não é o mesmo do de ‘tipos’ da Bíblia. Noé poderia ainda ter
levado variedades menores ou filhotes de
alguns animais.
Os que defendem a Teoria do Dilúvio
Universal observam ainda que a madeira de gofer é um material forte e flexível e
que a carga pesada dava estabilidade à arca. Pontuam ainda que muitos animais
poderiam ter entrado na arca em estado de hibernação e que Noé tinha espaço
para armazenar alimento, bem como a água da chuva.
Um dos fatores que corroboram para a
historicidade do Dilúvio são os mitos diluvianos encontrados em diversas
culturas. Os mitos diluvianos aparentam ser desenvolvimentos místicos a partir
da história original do Dilúvio.
·
Historicidade
da Torre de Babel
Achados arqueológicos na Suméria narram
a história de Ur-Nammu (c. 2044 a.C. – 2007 a.C.), rei de Ur que recebeu ordens
para construir a Grande Torre de Zigurate em homenagem ao deus-lua Nannat.
Segundo o relato, a construção ofendeu aos deuses que lançaram a obra abaixo, espalhando
os homens por outras nações e confundindo suas línguas. Isso fornece apoio ao
relato bíblico.
·
Historicidade
dos Patriarcas
Códigos legais do mundo antigo revelam
que Abraão teria expulsado Agar com receio pois estava legalmente comprometido
a cuidar dela. As Cartas de Mari revelam que nomes como Abraão, Jacó e
benjamitas eram comuns na época e confirmam a guerra descrita em Gênesis 14.
·
Historicidade
de Sodoma e Gomorra
Há evidências de um grande incêndio
ocorrido a muito tempo na região do cume de Jebel Usdum (Monte Sodoma), quando
possivelmente um campo de petróleo entrou em erupção abaixo do mar morto.
·
Historicidade
do Período Mosaico
O
livro de Deuteronômio, embora datado pelos críticos no século VII a.C., segue o
típico de tratado de suserania dos hititas no segundo milênio a.C. Há também achados
arqueológicos de possíveis ruínas da cidade de Jericó.
·
Historicidade
da Monarquia de Israel
A fortaleza de Saul em Gibeá foi
encontrada e escavada. Uma inscrição do século IX a.C. feita por inimigos de
Israel comprova a existência de Davi. Ainda, 26.000 tabuletas encontradas no
palácio de Asurbanipal confirmam a crueldade dos assírios. Uma pintura no
palácio de Sargão mostrava a batalha mencionada em Isaías 20. O Obelisco Negro
de Salmanaser apresenta Jeú (ou seu emissário) se curvando perante o rei da
Assíria. Recentemente foi encontrado o relato do cerco a Jerusalém feito por
Senaqueribe. Registros encontrados nos jardins suspensos da Babilônia mostram
que Joaquim recebia mensalmente uma ração e um local para viver (2 Reis
25.27-30) e um cilindro confirmou o édito de Ciro registrado por Esdras.
·
Historicidade
do Período Pós-cativeiro
Papiros
Elefantinos mencionam Joanão, o sumo-sacerdote e Sambalate, o governador da
Suméria. O palácio de Susã foi descoberto em escavações (Ester 1.1-2).
Desvalorizar o Antigo testamento é uma
característica muito comum hoje. Alguns, seguindo os passos do Marcionismo,
acham que o mesmo foi abolido, que agora vivem o tempo do “Novo Testamento” e
que o Antigo serve apenas como um documento histórico. Adotando um pensamento
maniqueísta, há os que imaginam Jeová dos Exércitos como um Deus irado
incompatível com o Amoroso Jesus do Novo testamento. Outros acreditam que a
moral veterotestamentária foi completamente abolida.
A Teologia Liberal levantou também
sérias críticas contra o Antigo Testamento. C. S. Lewis possuia uma visão não
muito ortodoxa do mesmo, Richard Simom negou a autoria mosaica do Pentateuco, a
Escola de Welhausen difundiu a famosa Teoria JEPD e Baruch Spinoza falou do
Velho Testamento como se fosse um escrito produzido por Esdras por volta do ano
400 a.C. Diante desses terríveis ataques precisamos manter firmes nossa fé na
historicidade do Antigo Testamento.
Fonte: Geisler,
N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembleias de Deus.
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