BREVE INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA


O objetivo deste texto é apresentar um resumo básico de introdução à Psicologia, proporcionando uma visão geral desse campo, apresentando sua história, principais teorias e temas. O texto se divide em quatro partes, o primeiro apresenta o campo da psicologia e seu objeto de estudo, a segunda parte trata da história da psicologia moderna, a terceira parte apresenta brevemente as principais abordagens da psicologia e a última parte traz uma pequena consideração de alguns temas que são tratados pela Psicologia. 

I. O CAMPO DA PSICOLOGIA 

A Psicologia pode ser compreendida como um campo do conhecimento diverso que tem como objeto de estudo os fenômenos psicológicos a partir das compreensões e métodos próprios de cada abordagem. A natureza dos fenômenos psicológicos é compreendida de maneira diferente por cada uma das abordagens da Psicologia, podendo se referir à consciência, ao comportamento, à cognição, ao inconsciente, à subjetividade, entre outros. 
Na medida em que a psicologia tem um objeto específico (os fenômenos psicológicos), uma linguagem rigorosa, métodos e técnicas (que variam para cada abordagem), ela pode ser considerada uma ciência. Nesse sentido, a psicologia se diferencia dos estudos filosóficos sobre a psique que existem antes mesmo do surgimento da psicologia como ciência e das concepções psicológicas do senso comum. 

II. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 

A Psicologia enquanto ciência surgiu no final do século XIX com Wilhelm Wundt na Alemanha. Wundt entendia a Psicologia como ciência da mente e propôs o uso do método experimental para o estudo dos fenômenos psicológicos. Wundt foi o criador do primeiro laboratório de Psicologia em Leipzing. Em seu laboratório, o método usado para acesso aos conteúdos psicológicos era o método da introspecção que consistia na auto-observação controlada dos próprios processos mentais. Além da psicologia introspectiva individual, Wundt propôs uma psicologia social que ele denominou como psicologia dos povos, que teria por objetivo a consideração psicológica das qualidades morais e intelectuais dos povos. 
Logo que a Psicologia surgiu, ela já foi marcada por diversas abordagens. As primeiras abordagens da Psicologia foram: (i) Funcionalismo: teoria defendida pelo norte-americano Willian James (1842 – 1910) que compreendia os fenômenos psicológicas a partir da sua funcionalidade, ao invés de determinar propriedades psicológicas, nesse sentido, os fenômenos psicológicos eram entendidos como processos ou operações mentais que tinham uma funcionalidade adaptativa do sujeito em relação ao meio; (ii) Estruturalismo: teoria defendida pelo inglês Edward Titchener (1867 – 1927), sua psicologia buscava compreender os processos da consciência, decompondo-os em suas partes mais simples, compreendendo as leis de associação entre os conteúdos psíquicos e determinando os aspectos fisiológicos do psiquismo; (iii) Associacionismo: teoria defendida pelo norte-americano Edward Thorndike que defendia que as reações comportamentais do ser humano se davam a partir de associações entre determinados estímulos em uma relação de punição e reforçamento. 

III. PRINCIPAIS ABORDAGENS DA PSICOLOGIA 

A Psicologia é uma ciência diversa, caracterizada por uma pluralidade de abordagens com concepções antropológicas, psicopatológicas e psicoterápicas distintas. O objetivo desta seção é fazer uma apresentação breve de algumas das principais abordagens da Psicologia: 
(i) Behaviorismo: teoria proposta pelos psicólogos norte-americanos John Watson (1878 – 1958) e Burrhus Skinner (1904-1990) que entendiam que o objeto da psicologia deveria ser o comportamento humano, já que somente ele é acessível à observação empírica. Skinner distingue entre dois tipos de comportamento, o comportamento respondente (involuntário) e o comportamento operante (voluntário). O comportamento respondente é determinado por estímulos antecedentes do ambiente enquanto o comportamento operante é determinado por suas consequências. Os comportamentos respondentes podem ser condicionados por meio da associação de estímulos (condicionamento clássico), já os comportamentos operantes podem ser reforçados (quando a probabilidade do comportamento se repetir é aumentada)punidos (quando a probabilidade do comportamento se repetir é diminuída) ou extintos (quando determinada resposta comportamental deixa de existir). 
(ii) Psicanálise: a Psicanálise é um campo de investigação da psique humana, não é propriamente uma teoria da psicologia porque ela é mais ampla que a psicologia. A psicanálise também é diversa, possuindo diferentes teorias que, no entanto, tem em comum o inconsciente como objeto de estudo. O pensador alemão Sigmund Freud (1856 – 1939) é considerado o pai da psicanálise, sua teoria é divida em duas “tópicas” de acordo com o desenvolvimento de seu pensamento. Na Primeira Tópica, Freud considera o aparelho psíquico dividindo-o em diferentes dimensões: o inconsciente (em que estariam os conteúdos de difícil acesso), o pré-consciente (em que estariam os conteúdos facilmente acessíveis) e a consciência (a percepção imediata dos processos de pensamento). Na Segunda Tópica, Freud desenvolve as noções de Id (instância constituída por nossas pulsões inatas), Ego (a instância que media a relação do id com o mundo externo) e Superego (a consciência moral). 
(iii) Psicologia Analítica: É a teoria proposta pelo psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875 – 1961). De acordo com Jung, existe uma camada profunda da psique que é o inconsciente coletivo que contém um material herdado e compartilhado por toda a humanidade. Nele se encontram os arquétipos, que são formas universais da alma humana. Jung também desenvolveu uma teoria da personalidade, segundo ele existem dois tipos psicológicos básicos: introversão (quando o indivíduo é mais voltado para o interior) e extroversão (quando o indivíduo é mais voltado para o exterior); e quatro funções psicológicas básicas: pensamento (função psicológica que estabelece um encadeamento de representações em uma conexão conceitual); sentimento (função psicológica que concede ao conteúdo um valor determinado no sentido de aceitação ou recusa); percepção (função psicológica que transmite um estímulo físico percebido) e intuição (função psicológica que se ocupa de transmitir percepções através do inconsciente). 
(iv) Psicologia Cognitiva: A psicologia cognitiva estuda os processos cognitivos a partir do método experimental. Entre os fenômenos psicológicos estudados pela psicologia cognitiva estão a percepção (captação e processo de informação), a atenção (processo de concentração em um determinado estímulo selecionado) e a memória (capacidade de armazenamento e recordação de informação). Para a psicologia cognitiva, nossos pensamentos geram emoções que por sua vez geram determinados comportamentos. Assim, a maneira como percebemos determinada situação produz em nós determinados pensamentos que geram uma emoção que por sua vez vai levar o sujeito a adotar um determinado comportamento. 
(v) Psicologia Humanista: A Psicologia humanista foi defendida pelo psicoterapeuta norte-americano Carl Rogers (1902 – 1987). De acordo com Rogers, o ser humano possui duas tendências básicas: a tendência formativa (segundo a qual as coisas tendem a evoluir do mais simples ao mais complexo) e a tendência atualizadora (segundo a qual as coisas vivas se movem em direção à realização de suas potencialidades). A tendência atualizadora é uma força natural dentro de nós que conduz ao crescimento e ao desenvolvimento. Rogers também desenvolveu três conceitos de “eu”, o eu organísmico (o eu real que existe desde que nascemos), o eu percebido (o autoconceito que se desenvolve a partir da interação com o outro) e o eu ideal (a pessoa que gostaríamos de ser). 

IV. TEMAS EM PSICOLOGIA 

O objetivo desta seção é apresentar de maneira breve alguns temas que são estudados pela psicologia. Além de diversa em suas abordagens, a Psicologia também se ocupa com uma pluralidade de temas, que revelam o aspecto múltiplo do ser humano. Alguns dos temas teóricos com os quais a Psicologia se ocupa são: 

(i) Desenvolvimento Humano: A Psicologia estuda o desenvolvimento do ser humano considerando uma pluralidade de aspectos, como a dimensão cognitiva, afetiva e psicomotora. Freud propôs uma teoria do desenvolvimento psicossexual segundo a qual a energia sexual ou libido se relaciona com cinco fases do desenvolvimento: a fase oral (que vai do nascimento até um ano e meio, em que a zona erógena predominante é a boca), a fase anal (que vai de um ano e meio até três anos, em que o ânus é a zona erógena primária), a fase fálica (entre os três e seis anos de idade, na qual ocorre o Complexo de Édipo, em que a criança se interessa sexualmente por um dos genitores enquanto deseja o desaparecimento do outro), a fase latente (que vai dos seis anos até a puberdade, em que há uma aplicação da energia psíquica em atividades de natureza não-sexual) e a fase genital (que se dá a partir da puberdade, em que se desenvolve o interesse sexual para fora do âmbito familiar). Já o psicólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980) propôs uma teoria do desenvolvimento cognitivo que envolve quatro estágios: estágio sensório-motor (do nascimento aos dois anos de idade, em que o bebê se relaciona com o mundo principalmente através da percepção e dos movimentos); estágio pré-operatório (vai dos dois aos sete anos e é marcado pelo aparecimento da linguagem); estágio operatório-concreto (vai dos sete aos onze anos, em que a criança apresenta a capacidade de coordenar e integrar diferentes pontos de vista); estágio operatório-formal (doze anos em diante, caracterizado pela habilidade de pensamento formal e abstrato). 
(ii) Aprendizagem: a aprendizagem pode ser entendida como o desenvolvimento de determinadas habilidades a partir do estudo ou da experiência. Um importante teórico na psicologia que estudou sobre o tema foi o psicólogo russo Lev Vygotsky (1896 – 1934). Para Vygotsky, a linguagem e seus signos têm um importante papel no processo de aprendizagem, ele entende que o signo age como um instrumento da atividade psicológica, sendo fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Os sistemas simbólicos de compreensão da realidade são entendidos nessa teoria como mediadores entre o indivíduo e o mundo real. Vygotsky entende que a interação social fornece a matéria prima para o processo de aprendizagem e esse processo precisa ser compreendido como de natureza histórica e social. 
(iii) Saúde Mental: A saúde mental é uma parte integrante da saúde humana e que diz respeito ao bem-estar psicológico. A saúde é mais do que mera ausência de doença, trata-se de uma condição positiva e multidimensional. A Psicologia da saúde se fundamenta no modelo biopsicossocial, reconhecendo a multifatoriedade do processo saúde-doença. No Brasil, os serviços de saúde estão organizados em três níveis de atenção: a atenção primária, relacionada com a prevenção, a atenção secundária, relacionada com o tratamento especializado e a atenção terciária, relacionada aos serviços de alta complexidade. Importante na história da saúde mental são a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial, que têm um papel essencial para que os diagnosticados com transtornos mentais possam receber um tratamento mais humanizado. Os CAPS (Centros de Assistência Psicossocial) são fruto de conquistas dessa luta, eles são unidades de saúde regionalizados que contam com uma equipe multiprofissional e que têm como objetivo prestar atendimento a pessoas que sofrem com transtornos mentais severos ou que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, os serviços são realizados evitando as internações e favorecendo a inclusão social. 
(iv) Dinâmica da Família: A Psicologia também estuda as diferentes configurações de família e suas dinâmicas relacionais. A antropologia nos permitiu compreender que não existe uma forma de organização única de família, podemos entender família como uma determinada rede de vínculos afetivos, constituída por personagens com conflitos e desejos. Uma importante questão estudada pela psicologia é a violência doméstica, especialmente contra mulheres e crianças. A violência psicológica pode ser compreendida como atos de humilhação e ameaça que geram sofrimento psicológico. No caso da violência com crianças, pode-se incluir a questão da negligência e do abandono. A violência doméstica ocorre em todas as classes sociais e com pessoas de ambos os sexos e idades, ao identificar casos de violência doméstica, o psicólogo, entre outras coisas, atua notificando os órgãos do Estado responsáveis pelo cumprimento dos direitos da pessoa violentada. 
(v) Comportamento Organizacional: A Psicologia também trabalha as questões de relações humanas no contexto organizacional, isto é, no contexto das empresas. A Psicologia organizacional busca estudar as relações entre as pessoas e grupos no contexto da organização a fim de fazer uso desse conhecimento para a promoção da melhoria da eficácia organizacional. A Psicologia organizacional entende que o comportamento humano é orientado para a satisfação de suas necessidades, que as relações sociais que o indivíduo estabelece são importantes para seu autoconceito e que o ser humano é capaz de perceber, avaliar, pensar e fazer escolhas, é para alcançar a satisfação de suas necessidades que os humanos se agrupam em organizações. A organização é um sistema de comportamentos sociais inter-relacionados em que cada participante recebe incentivos em troca dos quais faz contribuições à organização, o equilíbrio organizacional se realiza quando os incentivos e as contribuições são adequados um ao outro. Basicamente, a psicologia organizacional atua buscando compreender as interações no interior das organizações construindo a partir dessa compreensão estratégias que promovam o bem-estar psicológico e a qualidade de vida das pessoas. 
(vi) Psicologia Social: Existem duas vertentes de Psicologia Social, a psicologia social cognitiva e a psicologia social sociológica. A psicologia social cognitiva estuda temas como cognição social (processos cognitivos de processamento de informação pelos quais operam os fenômenos sociais), atitudes (tendência de responder a um objeto social de maneira favorável ou desfavorável), influência social (quando o comportamento executado por uma pessoa ou uma mudança de opinião é resultado de uma ação exercida por outra pessoa) e semiótica (teoria geral dos signos linguísticos). Já a psicologia social sociológica investiga os problemas sociais e as relações macroestruturais que esses problemas comportam, dando ênfase aos processos de interação social e histórica, entre as questões investigadas pela psicologia social sociológica está as relações de exploração que marcam as atividades trabalhistas no interior da sociedade capitalista, de modo que a psicologia social sociológica enfoca na conscientização dos trabalhadores e na contribuição de políticas públicas de atenção à saúde do trabalhador. 
(vii) Psicologia Comunitária: A Psicologia comunitária investiga a relação dos problemas sociais com a saúde mental a partir de uma intervenção de caráter crítico e de planejamento social. O principal objetivo da psicologia comunitária é a compreensão dos problemas das comunidades e a busca de uma intervenção rigorosa nos processos por meio dos quais as comunidades possam melhorar o bem-estar psicológico dos indivíduos que as constituem. O referencial fundamental da Psicologia comunitária é a Ecologia, que considera os indivíduos em seus contextos naturais, as intervenções realizadas pela psicologia comunitária se dão a partir do desenvolvimento e da participação ativa dos integrantes da comunidade e dos recursos da própria comunidade. Um conceito importante para a Psicologia Comunitária, é a noção de Empoderamento, que consiste na criação de contextos em que as pessoas que não tinham voz possam ser compreendidas e ouvidas, participando de maneira ativa em decisões comunitárias que afetem sua vida. 

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