FUNDAMENTOS DO DA-SEIN (HEIDEGGER)
O que se segue é um esboço da Introdução e da Primeira Parte do livro Ser e Tempo de Heidegger. Este esboço visa apenas apresentar o que pode ser encontrado no livro. Ele não representa minhas ideias pessoais.
PROLEGÔMENA À ANÁLISE
DA QUESTÃO DO SER
COLOCAÇÃO DA QUESTÃO DO SER
Conceito de Ser
1. O
ser é o conceito mais universal= ser
é uma universalidade transcendental,
não só uma universalidade genérica.
2. O
ser é indefinível= ser não é um ente.
3. O
ser é evidente por si mesmo= faz-se
uso da palavra “ser” compreendendo seu sentido intuitivamente.
Questão do Ser
Estrutura
Formal do Questionar
-
Questionado= acerca do que se
questiona, isto é, o “ser”.
- Interrogado= no
que se deve buscar o questionado, isto é, no ente.
- Perguntado= meta intencionada no questionamento, isto é, o
sentido do ser.
> Primado Ontológico da Questão
do Ser= O
Da-Sein é em si mesmo ontológico.
>Primado Ôntico da Questão do
Ser= O
Da-Sein é determinado em seu ser pela
existência.
>Primado Ôntico-ontológico do Ser= O
Da-Sein é originariamente
constitutivo de uma compreensão do ser de todos os entes que não possuem o modo
de ser do Da-Sein.
MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO DA QUESTÃO
DO SER
> Suspensão
Fenomenológica= Deve-se efetuar a
remoção das interpretações sedimentadas da tradição ontológica para se chegar
às experiências originárias do que significa “ser”.
MÉTODO FENOMENOLÓGICO
-
Fenômeno = aquilo que se mostra em si
mesmo.
-
Logos= fala que deixa e faz ver aquilo
que se revela.
-
Fenomenologia= Deixar e fazer ver por
si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo.
FUNDAMENTOS
DO DA-SEIN
CARACTERIZAÇÃO
INICIAL DO DA-SEIN
1. A essência do Da-Sein é a sua
existência.
2. O ser do Da-Sein é sempre meu.
SER-NO
MUNDO
Ser-no-mundo é uma constituição
fundamental do Da-Sein.
A Mundanidade do Mundo
Polissemia da Palavra Mundo
- Conceitos
ônticos de mundo
1.
Totalidade dos entes simplesmente dados
2.
Contexto no qual o Da-Sein vive (mundo).
-
Conceitos Ontológicos de mundo
1.
Ser dos entes (“mundo”).
2.
A própria mundanidade.
> Mundanidade Circundante=
O mundo mais próximo do Da-Sein cotidiano.
Manualidade
=
modo de ser dos entes-simplesmente-dados (instrumentos) no mundo.
-
Instrumento= aquilo com que se lida pragmaticamente na ocupação.
-
Circunvisão= visão do conjunto que abarca o material, o usuário, o uso e a
obra.
1. Surpresa= demonstração
da manualidade do manual (a impossibilidade de emprego do instrumento faz
descobrir a manualidade do instrumento).
2. Importunidade=
desarranjo do uso (quando não se sabe o que fazer com o instrumento, o que põe
de novo em descoberto o manual).
3. Impertinência= não-estar-à-mão,
não-manual (quando não se tem tempo para se ocupar do instrumento).
>Espacialidade do
ser-no-mundo= A espacialidade do Da-Sein não é uma posição estática mas uma dinâmica de abertura e
instalação de espaços, num movimento de distanciamento e direcionamento
Ser-com
Ser-com-outros=
O mundo do Da-Sein é sempre o mundo
compartilhado com os outros.
-
Ocupação= Ser-junto-com-o-manual.
-
Pre-ocupação= convivência recíproca com os outros (ser-com-outros).
Cuidado
substitutivo= assumir a ocupação que o outro deve realizar.
Cuidado antepositivo= Cuidado
propriamente dito que se pre-ocupa com o outro para desenvolvê-lo como tal.
- Projeção= Reconhecer o Da-Sein no outro.
>
Impessoalidade= Si-mesmo do Da-Sein na cotidianidade
Ser-em
Ser-em= o
Da-Sein “habita” o mundo, estando familiarizado com ele.
Constituição
Existencial do “Da” de Da-Sein
> Disposição do medo= A
disposição (clima afetivo∕humor) do medo possui o caráter da ameaça e o de que se teme é o
amedrontador.
- Caráter da ameaça= (1) O amedrontador é
prejudicial; (2) O prejudicial visa uma região determinada daquilo que pode
encontrar; (3) A região e o “estranho” que dela proveem são conhecidos; (4) O
prejudicial se aproxima sem se achar numa aproximação dominável; (5)
aproximando-se na proximidade o prejudicial ameaça; (6) o prejudicial traz
consigo a possibilidade desvelada de se ausentar.
>
Compreensão= possibilidade de
conhecimento que constitui o ser do “Da”
do Da-Sein.
-
Significância= perspectiva em virtude
da qual o mundo se abre como tal.
>
Interpretação= Elaboração das
possibilidades projetadas no compreender. A interpretação não é a apreensão de
um dado preliminar, isenta de pressuposições, ela parte de uma opinião prévia
fundada em uma:
-
Posição prévia= Horizonte de possibilidades;
-
Visão prévia= Recorte de uma possibilidade em perspectiva;
-
Concepção prévia= apreensão conceitual.
Conceito de Enunciado=
Enunciado significa (i) mostrar por si mesmo (deixar e fazer ver), (ii)
predicação que determina o sujeito e (iii) comunicação (compartilhamento
existencial). Assim o enunciado é um mostrar a partir de si mesmo e por si
mesmo, que determina e comunica.
Fala= Articulação
em significações da compreensibilidade inserida na disposição de ser no
mundo. Estrutura-se em três momentos
constitutivos: referencial (aquilo sobre o que se fala); comunicação (partilhar
com) e anúncio (estar fora).
Verdade= Primordialmente
o descobrimento e secundariamente a descoberta. Ser-verdadeiro
(ser-descobridor) é um modo de ser do Da-Sein
Análise
do Ser Cotidiano do “Da” do Da-Sein
>
Falação= Oscilação sem solidez. Modo
ilegítimo de compreensão, fala superficial.
>
Curiosidade= Estar em toda parte e em
parte nenhuma. Voracidade insaciável de novidades. Caracteriza-se por:
-
Impermanência= busca sempre o novo.
-
Dispersão= providencia um conhecimento só para se tornar consciente.
-
Desamparo= estar em toda parte e ao mesmo tempo em parte nenhuma.
>
Ambiguidade= Desenraizamento. Parece ter compreendido mas não, ou
parece não ter compreendido mas compreendeu.
>
Decadência= modo fundamental de ser
da cotidianidade. O modo de ser específico da decadência caracteriza-se por:
-
Tentação= O Da-Sein confere-se a si
mesmo a possibilidade de decair;
-
Tranquilidade= A pretensão do impessoal assegura a certeza da plenitude das
possibilidades de ser.
-
Alienação= encobrimento do poder-ser mais próprio do Da-Sein.
-
Aprisionamento= O Da-Sein se fecha em
si mesmo.
Angústia= Disposição
afetiva que retira o Da-Sein de seu
empenho decadente no “mundo” rompendo com a familiaridade cotidiana do ser-em
Fonte: Heidegger, M. Ser e Tempo 10 ed. Petrópoles: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.
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