REFUTAÇÃO DOS ARGUMENTOS CONTRA A GUARDA DO DOMINGO
Mesmo antes da Queda, Deus instituiu o descanso semanal (Gênesis 2.1-4).
O sétimo dia foi observado pelo povo do Senhor mesmo antes do Sinai (Êxodo
16.23), foi incluído entre os preceitos do Decálogo como um lembrete da Criação
(Êxodo 20.8-11) e da Redenção (Deuteronômio 5.12-15). O quarto mandamento foi
exposto pelos profetas como um dia de descanso (Isaías 58.13-14) e o povo, após
o exílio, comprometeu-se pactualmente em observá-lo (Neemias 13.15-22).
Antes da ressurreição do nosso Senhor, Jesus observou o sábado no sétimo
dia (Lucas 4.16), e assim também faziam os cristãos (Lucas 23.54-56). Então,
Cristo ressuscitou no primeiro dia (Marcos 16.9), fez do domingo um dia de
reunião com seus discípulos (Marcos 16.9-11; Mateus 28.8-10; Lucas 24.34;
Marcos 16.12-13; João 20.19-23). No domingo, Cristo abençoou seus discípulos
(João 20.19), soprou sobre eles o Espírito (João 20.22), ordenou-lhes a grande
comissão (João 20.21), ascendeu aos céus (João 20.17) e em um domingo derramou
o Seu Espírito sobre a Igreja no Pentecostes (Atos 2.1).
Com tantas demonstrações, a Igreja entendeu que Cristo havia mudado o
dia de descanso do sábado para o domingo e, então, fez do Domingo o seu dia de
culto (Atos 20.6-7; 1 Coríntios 16.2). No primeiro dia da semana, Cristo
entregou sua última grande revelação à Igreja que já reconhecia o domingo como
o Dia do Senhor (Apocalipse 1.10). A partir de então, o domingo passou a ser
recebido pelos cristãos como o “sábado cristão”, ocupando um lugar especial na
fé da Igreja desde a patrística até os símbolos reformados.
Assim, é estranho que um mandamento que tenha tido lugar desde a
Criação, que tenha recebido o testemunho da Lei e dos Profetas, que foi
restabelecido depois do exílio, observado por Cristo e os apóstolos e que
continuou a ser observado pela Igreja ao longo da História, seja hoje tão
atacado e negligenciado. Os argumentos contra o Domingo são de naturezas
diversas, vem de dispensacionalistas que advogam a abolição da Lei, de
sabatistas que negam a mudança do sábado para o domingo e de outros que pensam
ter a Igreja adotado o primeiro dia da semana como dia de culto por mera
convenção. Objetaremos contra alguns argumentos que têm sido levantados contra
a obrigatoriedade da guarda do Domingo:
Objeção 1: A Lei foi abolida (Efésios 2.15).
Cristo cumpriu a Lei em nosso lugar, desse modo, estamos desobrigados da
observância do quarto mandamento.
Resposta: É verdade que o cristão não está
debaixo da Lei como um Pacto de Obras, e nesse sentido, é correto dizer que a
Lei foi abolida. Mas a observância da Lei ainda é obrigatória para o cristão
como um meio do qual Deus faz uso para a santificação dos seus filhos. É nesse
sentido que Cristo declara que a Lei não pode ser abolida (Mateus 5.17-18) e
que o apóstolo Paulo afirma expressamente que a Lei não foi anulada (Romanos
3.31). É verdade que Cristo obedeceu a Lei Moral em nosso lugar como Pacto das
Obras para nossa justificação e assim nós não temos que
guardar a Lei para sermos justificados (Gálatas 2.16), mas
isso não significa que não estejamos obrigados a obedecer a Lei divina para
nossa santificação. Além disso, a Lei da qual fala Efésios
2.15 é a Lei na forma de ordenanças e mandamentos que separava judeus e
gentios, isto é, a Lei cerimonial. A Lei cerimonial do Antigo Testamento foi
revogada com a morte de Cristo, mas a Lei moral permanece irrevogável.
Objeção 2: O quarto mandamento é de natureza
cerimonial (Levítico 23.3) e foi abolido como as demais cerimônias do judaísmo
(Colossenses 2.16-17; Gálatas 4.10).
Resposta: Embora o Antigo Testamento fale de
sábados cerimoniais, que até mesmo poderiam cair em um dia que não fosse o
sétimo (Levítico 23.3,11,15,16,32,38) e, ainda que o Novo Testamento ensine que
esses sábados cerimoniais tenham sido abolidos juntamente com os demais dias de
festividades judaicas (Colossenses 2.16-17; Gálatas 4.10). Esse sábado
cerimonial deve ser distinguido do sábado moral. Enquanto os sábados
cerimoniais são apresentados nas Escrituras ao lado das festividades judaicas
(Oséias 2.11: “E farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas
luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades.”), o sábado
moral é apresentado no contexto dos mandamentos morais. Ele é incluído como um
mandamento criacional e um dos princípios morais do Decálogo.
Que todos os mandamentos do Decálogo são de natureza moral, isso fica
claro: (i) pela própria natureza dos mandamentos que estão
gravados na consciência de todos os homens e que se manifestam em todas as
culturas; (ii) porque os profetas sempre que denunciam os
pecados do povo fazem isso expondo algum mandamento do Decálogo; (iii) porque
Cristo resumiu a Lei Moral tendo em mente as duas tábuas do Decálogo: amar a
Deus (primeiro ao quarto mandamentos) e amar ao próximo (quinto ao décimo
mandamento) – Mateus 22.35-40; (iv) porque os apóstolos
receberam os dois grandes mandamentos de Cristo sobre o amor como um resumo dos
mandamentos do Decálogo (Romanos 13.9); (v) porque Cristo
apresentou o Decálogo ao jovem rico como o código perfeito de Deus que se
integralmente obedecido garantiria a posse da vida eterna (Marcos
10.17-19); (vi) porque a Igreja, iluminada pelo Espírito, em
suas mais variadas vertentes, sempre recebeu o Decálogo como a exposição fiel
da Lei moral de Deus, dando a ele um lugar especial em seus símbolos de fé.
Visto que o Decálogo é um resumo da
Lei Moral de Deus, o quarto mandamento que ordena a guarda do sábado não pode
ser um preceito cerimonial distinto dos outros nove. Além disso, o descanso
semanal foi instituído antes da Queda (Gênesis 2.1-4), antes, portanto, que se
pudesse estabelecer qualquer preceito cerimonial. Sendo anterior à Queda, a
observância semanal não pode ser da mesma natureza daqueles princípios cerimoniais
que fazem parte dos rituais de expiação do Antigo Pacto. Assim, visto que o
quarto mandamento é moral, sua obediência permanece obrigatória a todos os
homens tanto quanto os demais mandamentos do Decálogo.
Há quem admita que o quarto mandamento
seja um preceito moral e que sua observância continue em nossos dias,
mas afirmam que ele não mais se refere à observância de um dia. Ensinam
que cumprimos o quarto mandamento, hoje, simplesmente por descansarmos nossa
salvação em Cristo ou por separarmos todos os dias um momento de descanso e
dedicação a Deus. Mas se isso é assim, não haveria necessidade do quarto
mandamento. Se não houvesse o quarto mandamento, a Igreja continuaria
descansando sua salvação em Cristo e ainda estaria obrigada pela Lei a cultuar
a Deus e repousar diariamente. Além disso, mesmo com o quarto mandamento,
Israel, no Antigo Testamento, já cumpria todas essas coisas. Os cristãos do
Antigo Testamento descansavam sua fé no Messias vindouro e tinham a obrigação
de dedicar-se a Jeová diariamente (Salmos 1.2). Assim, se a guarda do quarto
mandamento significa meramente a dedicação e o descanso diário que os cristãos
sempre observaram, mesmo sob o Antigo Pacto, o quarto mandamento se tornaria
supérfluo e desnecessário. No entanto, tanto a Igreja do Antigo, quanto a do
Novo Pacto, ainda que observassem um descanso e devoção diários, nunca
desprezaram por isso a necessidade de guardar um dia em sete para o culto e
repouso solene. Como bem observou Jonathan Edwards:
"Alguns dizem que o quarto
mandamento é perpétuo, mas não no seu sentido literal; não como se designasse
certa proporção particular de tempo para ser separada e devotada ao descanso
literal e a exercícios religiosos. Dizem que ele prevalece apenas em seu
sentido místico, isto é, que este descanso semanal dos judeus tipificava o
descanso espiritual da Igreja Cristã; e que os que estão debaixo do Evangelho
não devem fazer distinção entre dias e dias, mas manter todos os dias santos,
fazendo tudo de uma maneira espiritual. Mas esta é uma maneira absurda de
interpretar o mandamento, no que se refere aos Cristãos. Pois se foi abolido a
esse ponto, está inteiramente abolido, uma vez que é seu exato propósito fixar
o tempo da adoração. O primeiro mandamento fixa o objeto, o segundo os meios, o
terceiro a forma, o quarto o tempo. E, se prevalece agora apenas como se
indicasse o descanso espiritual do Cristão, e o santo proceder em todos os
tempos, não mais permaneceria como um dos dez mandamentos, mas como um resumo
deles.”[1]
Além disso, o mandamento diz explicitamente que se deve
descansar após seis dias de trabalho. Se guardar o quarto
mandamento não inclui observar um dia semanal, um princípio básico do
mandamento teria sido modificado. A letra escrita de cada um dos mandamentos do
Decálogo permanece inalterável, não devemos pensar que “não matarás”, por
exemplo, signifique outra coisa que “não matarás”, de igual modo, não podemos
achar que “trabalharás seis dias e descansarás no sétimo”, signifique algo
menos que “trabalhar seis dias e descansar no sétimo” (Êxodo 20.9-10: “seis dias
trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu
Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está
dentro das tuas portas.”).
Como observou Jonathan Edwards, embora o dia de guarda tenha
mudado, o mandamento de observar um Sabath a cada sete dias permanece
inalterável:
"As palavras do quarto mandamento
não determinam em que dia da semana devemos guardar como um Sabath; elas
meramente determinam que devemos descansar e guardar como um Sabath todo sétimo
dia, ou um dia depois de cada seis... E esta é nossa obrigação perpétua... O
quarto mandamento, de fato, supõe um determinado dia particular, mas não aponta
esse dia...Mas, pelo quarto mandamento, jamais saberiam quando cairia esse dia
específico... O preceito no quarto mandamento deve ser tomado, na sua
generalidade, como um sétimo dia que Deus havia de apontar, ou já teria
apontado...As palavras do quarto mandamento podem obrigar a Igreja, sob
diferentes dispensações, a observar determinados dias sétimos diferentes, bem
como o quinto mandamento pode obrigar diferentes pessoas a honrar diferentes
pais e mães...Portanto, na instituição do Sabath Cristão, não há mudança no quarto
mandamento; mas a mudança é em outra lei, que determinava o início e o fim dos
dias de trabalho dos Judeus... Estas palavras [do quarto mandamento] não se
tornam insignificantes para os Cristãos, pela instituição do Sabath Cristão:
elas ainda permanecem em total vigor naquilo que especialmente se pretende por
elas."[2]
É claro que o quarto mandamento inclui separar momentos diários de
repouso e devocionais, bem como o descanso espiritual em Cristo (Mateus 11.28),
mas não menos que o descanso semanal, assim como a proibição "não
matarás", que embota inclua tudo o que esteja envolvido no princípio de
proteção à vida, não inclui menos do que a proibição ao homicídio.
Objeção 3: Romanos 14.5-6 diz que o cristão maduro
não faz distinção de dias, mas considera todos os dias iguais.
A grande questão é se os dias dos
quais o apóstolo trata aqui inclui o sábado moral, ou se ele se limita a se
tratar da observância cerimonial dos dias judaicos. Se for o último caso, este
texto está em harmonia com outros no Novo Testamento que falam da abolição dos
dias cerimoniais do judaísmo (Colossenses 2.16-17; Gálatas 4.10). Mas se
adotarmos a primeira interpretação, temos que admitir que o apóstolo Paulo está
chamando de “fracos” aqueles que seguiam a prática comum da Igreja de dar uma
consideração especial para o domingo (Atos 20.6-7; 1 Coríntios 16.2) e de
considerá-lo o Dia do Senhor (Apocalipse 1.10). Como essa última interpretação
é absurda, temos que concluir que a questão do quarto mandamento não é o ponto de
discussão do apóstolo nesta passagem. O Didaquê (65 – 150
d.C.), por exemplo, ao mesmo tempo em que ordena a guarda do Domingo: “Reúna-se no dia
do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus
pecados, para que o sacrifício seja puro.”(14.1 compare isso com Atos
20.7: “no primeiro dia da semana, ajuntando-se os
discípulos para partir o pão”), também condena os judaizantes
que faziam distinções de dias especiais (8.1: “Os seus jejuns não devem
coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da
semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e no dia da preparação.”) [4].
Além disso, em grego, a palavra “igual” não aparece em
Romanos 14.5.
Objeção 4: Visto que o Novo Testamento não tem
nenhum preceito explícito sobre a guarda domingo, o que permanece do quarto
mandamento é a observância de um dia em sete. A Igreja, por convenção, adotou o
primeiro dia da semana porque Cristo nele ressuscitou, mas poderia ter adotado
qualquer outro dia se assim o quisesse.
Com a nova administração da Aliança
da Graça, alguns mandamentos, não obstante permanecessem essencialmente os
mesmos, sofreram mudanças. Assim, por exemplo, embora o segundo mandamento
estabelecesse o princípio regulador do culto a Deus, no Antigo Pacto ordenava-se
que esse princípio fosse observado prestando a Jeová um culto que envolvia
sacrifícios e rituais cerimoniais. O princípio de que o culto a Deus deveria
ser regulado por Ele mesmo permaneceu inalterável, mas, na nova administração,
a observância desse mesmo princípio não se dá pela prestação de um culto que
siga estritamente os rituais da Lei cerimonial. A Igreja continuou observando o
segundo mandamento, mas esse perdeu suas características cerimoniais e recebeu
novas nuances com a nova administração. Observar o segundo mandamento seguindo
os ritos da antiga dispensação tornou-se até mesmo pecado.
Embora o Novo
Testamento não tenha uma ordenança explícita sobre o Domingo, seu
estabelecimento segue o mesmo raciocínio da passagem da circuncisão para o
batismo e da páscoa para a ceia. Esses dois preceitos quando passam para o Novo
Testamento, conservam uma continuidade histórica tão cristalina com sua forma
anterior, que não há necessidade de um preceito que explicite isso. Não temos,
por exemplo, um preceito explicitamente ordenando o batismo infantil, mas a
continuidade histórica entre a circuncisão e o batismo é tão clara, que não
houve necessidade de uma ordenança explícita para que o mandamento fosse
recebido pela Igreja.
Desse modo, a mudança de dia foi
natural. Até a ressurreição a Igreja observava o sétimo dia como seu dia de
adoração e de descanso sagrado, depois da ressurreição, a Igreja passou a
guardar o primeiro dia como seu dia de culto e repouso solene. O mesmo apreço
que a Igreja tinha pelo sábado no Antigo Pacto passou a nutrir agora pelo
Domingo na nova dispensação. A continuidade histórica era tão clara quanto
aquela que estabeleceu o batismo como a circuncisão cristã e a ceia como a
páscoa cristã. Desse modo, a Igreja outra coisa não fez senão receber o Domingo
como o sábado cristão. Assim como é absurdo exigir que o Novo Testamento
tenha um mandamento explícito sobre o batismo infantil, é uma presunção
injustificada a exigência de um mandamento explícito sobre o Domingo no Novo
Testamento:
"Quem pode positivamente dizer
que, se houvesse sido a vontade de Deus que guardássemos o primeiro dia da
semana, Ele o teria ordenado em termos expressos, como o fez com a observância
do antigo sétimo dia? Na verdade, se Deus assim houvesse criado nossas
faculdades, que não fôssemos capazes de receber uma revelação de Sua vontade de
outra maneira, então haveria alguma razão em afirmar isso. Mas Deus nos deu tal
entendimento, que somos capazes de receber uma revelação quando é feita de maneira
diversa. E, se Deus lida conosco de acordo com nossas naturezas, e de maneira
adequada a nossas capacidades, é o suficiente. Se Deus desvenda Sua vontade de
outra maneira qualquer, desde que seja de acordo com nossas faculdades, somos
obrigados a obedecê-la; e Ele deve esperar nosso reconhecimento e observância
de Sua revelação, da mesma maneira como se a houvesse revelado em termos
expressos."[4]
Como também observou James Bannerman, embora não encontremos
na Escritura um mandamento explícito para guardar o primeiro dia semana, a Bíblia fornece elementos
suficientes para concluirmos a mudança do sábado para o Domingo e a
obrigatoriedade de guardar o dia do Senhor no primeiro dia da semana:
"Há vários exemplos das Escrituras
que mostram a mudança do Sábado do último para o primeiro dia da semana.
Admitimos francamente que não existe nenhum preceito que indique de forma clara
a mudança, e que torne obrigatória a observância do primeiro dia da semana como
o Sábado Cristão. Mas existe um princípio geral, que não se pode negar, que o
exemplo das Escrituras com respeito a qualquer dever, quando é o exemplo de
homens inspirados, e quando não está relacionado a alguma função ou caráter
extraordinários deles, deve ser considerado como preceito obrigatório das
Escrituras. E qualquer leitor atencioso descobrirá facilmente esses exemplos no
Novo Testamento, suficientes para demonstrar a impositiva mudança do Sábado do
último para o primeiro dia da semana. Encontramos o exemplo de Cristo, em Suas
repetidas e solenes aparições aos Seus discípulos reunidos depois da Sua
ressurreição no primeiro dia da semana; encontramos a reunião determinada das
Igrejas sob a orientação inspirada e apostólica nesse mesmo dia; encontramos as
contribuições semanais feitas pelas congregações reunidas no primeiro dia da
semana; deparamo-nos com o nome diferenciado que lhe foi atribuído: Dia do
Senhor. Tudo isso é suficiente para estabelecer um precedente bíblico para a
mudança do dia, de igual autoridade a um mandamento explícito."[5]
A escolha do dia não foi efetuada
por mera convenção. Foi Deus quem estabeleceu, desde cedo, não só o princípio
do repouso semanal, mas também em qual dia esse descanso havia de ser
realizado. Lemos desde o princípio que Deus santificou o sétimo dia (Gênesis
2.2-3). Na nova administração permanece o mesmo princípio, cabe a Deus
estabelecer o dia em que Ele quer ser especialmente cultuado. Foi Cristo quem
ressuscitou no Domingo, foi Ele quem derramou o Espírito Santo sobre a Igreja
em um Domingo e foi o mesmo Cristo quem descortinou sua revelação final à
Igreja em um Domingo (Apocalipse 1.10). Logo, foi Cristo quem efetuou a mudança
do sábado para o Domingo.
A própria Escritura estabelece o
Domingo como o dia de guarda quando o chama de “o Dia do Senhor”. Que
Apocalipse 1.10 se refere ao Domingo, e não ao Dia do Senhor escatológico, fica
claro: (i) porque contexto está dando informações sobre onde (“na
ilha de Patmos” v.9), como (“em espírito” v.10) e quando (“no
dia do Senhor”) o apóstolo recebeu a revelação; (ii) porque
a expressão usada no grego “κυριακῇ ἡμέρᾳ” é distinta
daquela usada no Novo Testamento para o dia escatológico, a saber, “ἡμέρα
Κυρίου/ Ημέρα του Κυρίου”; (iii) porque a expressão
“dia senhorial” foi usada como contraposição aos dias de culto ao Imperador, de
modo que assim como os pagãos tinham um dia de culto ao Kyrios-Imperador, os
cristãos tinham um dia de culto ao seu Senhor, isto é, o Domingo (Atos
20.6-7); (iv) porque o Apocalipse de João foi escrito no
final do primeiro século quando a guarda do Domingo já estava mais estabelecida
na Igreja e (v) porque a partir da metade do segundo século,
pouco depois da escrita do Apocalipse, já encontramos testemunhos históricos de
que a Igreja observava o Domingo como o dia do Senhor.
Assim, sendo que a Escritura diz que é Deus quem especifica o dia de
guarda, que foi Cristo quem efetuou a mudança do sábado para o Domingo e visto
que o Novo Testamento declara expressamente que o Domingo é o Dia do Senhor,
somos proibidos de dizer que o dia específico de culto ao Senhor pode ser
estabelecido por convenção. O Deus que pelo princípio regulador do culto
estabelece como deve ser adorado, também é Aquele que tem a prerrogativa de
instituir o dia de culto.
Objeção 5: A mudança do Sábado para o Domingo foi
efetuada por Constantino no quarto século.
Resposta: Além dos argumentos precedentes que
provam que o Domingo é o dia do Senhor conforme as Escrituras, podemos citar
evidências históricas da patrística que provam que o primeiro dia da semana é
reconhecido pela Igreja como o sábado cristão mesmo antes de Constantino [6]:
A Epístola de Barnabé (cerca de 100 dC) - "Portanto, também nós mantemos o oitavo dia com alegria, o dia também em
que Jesus ressuscitou dos mortos”.
A Epístola de Inácio (cerca de 107 dC) - "Não
vos enganeis com estranhas doutrinas, nem com as fábulas antigas, que não são proveitosas.
Porque, se nós ainda vivemos segundo a Lei Judaica, nós reconhecemos que não
temos recebido Graça... Portanto, aqueles que foram educados na antiga ordem
das coisas vieram à posse de uma nova esperança, não mais observando o sábado,
mas vivendo na observância da Dia do Senhor, em que também a nossa vida surgiu
novamente por Ele e por Sua morte”.
Justino Mártir (cerca de 140 dC) - "E no
dia chamado domingo todos os que vivem nas cidades ou no campo se reúnem em um
só lugar, e as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas são lidos.
... Mas o Domingo é o dia em que todos têm uma assembleia em comum, porque é
primeiro dia da semana em que Deus ... fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso
Salvador no mesmo dia ressuscitou dos mortos ".
Bardesanes, Edessa (180 dC) - "No
primeiro da semana, nós nos reunimos juntos, em assembleia".
Clemente de Alexandria (194 dC) - "Ele,
em cumprimento do preceito, segundo o evangelho, mantém o Dia do Senhor ...
glorificando ao Senhor pela Sua ressurreição".
Tertuliano (200 dC) - "Nós
tornamos solene o dia depois do sábado, em contradição com aqueles que chamam
este dia o seu sábado".
Irineu (cerca 155-202 dC) - "O
mistério da ressurreição do Senhor não pode ser comemorado em qualquer dia
senão no Dia do Senhor, e somente nele devemos observar o descanso da festa de
Páscoa."
Cipriano (250 dC) - "O oitavo dia, isto é, o
primeiro dia após o sábado, é o Dia do Senhor ".
Anatólio (AD 270) - "Nossa
preocupação com a ressurreição do Senhor, que teve lugar no Dia do Senhor nos
levará a celebrá-lo".
Pedro, Bispo de Alexandria (306 dC) - "Mas
o Dia do Senhor, nós celebramos como um dia de alegria, porque nele, Ele [o
Senhor] ressuscitou”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É
claro que pode haver discussões sobre o que se pode e não fazer no Domingo,
assim como há discussões sobre que roupas se podem ou não vestir para não ferir
a modéstia. Também é verdade que todos os que guardam o Domingo o fazem de
maneira imperfeita e incoerente, mas a autoridade de nenhum mandamento se baseia
na prática imperfeita dos cristãos, mas na Lei perfeita de Deus. Aqueles que
desprezam a guarda do quarto mandamento, não observando o primeiro dia da
semana, estão transgredindo os santos mandamentos de Deus. Devemos defender o
Domingo como o dia no qual a Igreja observa o quarto mandamento, mas não só
isso, devemos observá-lo como dia de culto e descanso solene. Benditos sejam
aqueles que observam o sábado cristão e não profanam o santo dia do
Senhor: “Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que
lançar mão disto: que se abstém de profanar o sábado, e guarda a sua mão de
cometer o mal.” - Isaías 56.2.
FONTES:
[1] Jonathan Edwards. A Mudança e Perpetuidade do Sabath, p.10.
[2] Jonathan Edwards. A Mudança e
Perpetuidade do Sabath, pp.14,15,16.
[4] Jonathan Edwards. A Mudança e Perpetuidade do Sabath, p.7.
[5] James Bannerman. O Momento do Culto
Público e o Sábado Cristão, pp.16-17.
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