O objetivo deste artigo é interrogar
sobre a
"cientificidade" da Teoria da Evolução naturalista-(neo)darwinista (que designaremos a partir de agora simplesmente como "Evolucionismo"). Para
tanto, será feita uma ensaio
investigativo do conceito de "ciência" por meio de um questionamento da definição moderna de ciência, em
suas bases ontológicas e epistemológicas originárias.
Sendo assim, primeiro é preciso
definir o que é ciência. Sem uma definição prévia e rigorosa do que vem a ser
"ciência" não é possível avaliar adequadamente se o Evolucionismo é "Ciência" ou não. Em
geral, boa parte das definições de Ciência têm sido sustentadas sobre a base de
um evidencialismo-essencialista aristotélico. Segundo essa perspectiva, o
objetivo da Ciência seria classificar as coisas a partir de uma retirada do
fenômeno de seu campo natural de manifestação para um campo experimental de
observação, a fim de, por meio de testes de hipóteses de uma rede de conexões
de causalidade, poder apreender a essência objetiva da coisa em si a fim de
classificá-la em um conjunto rigoroso e delimitado de categorizações.
A concepção essencialista é a base da taxonomia biológica
moderna que exerce um papel fundamental quando se discute a Teoria
Evolucionista. A ideia de “espécie”, “gêneros”, “famílias”, etc. está alicerçada sobre
as noções aristotélicas de substância primária e secundária, enquanto “o que” estático e faticídio dos entes. A
Ciência Evolucionária tem um método próprio de classificação: partindo de
pressupostos neodarwinistas, ela tira o ser vivo de seu campo natural de
monstração e o classifica com base em um sistema taxonômico parcial. Podemos
chamar essa classificação como “taxonomia biológica”. Ela não é o único modo de
classificar as espécies.
Essas observações das influências aristotélicas por traz da
taxonomia biológica, já revelam a ingenuidade da definição
essencialista-evidencialista de Ciência. Não há algo como essências
objetivistas nas coisas que encerrem em si mesmas um significado passível de
ser apreendido neutralmente e imparcialmente pela consciência através da
observação empírica. Nenhuma evidência possui objetivamente um significado auto-incluso
em si mesmo. Evidências têm seus significados doados por
uma Weltanschauung (Cosmovisão), a qual possui uma articulação teórica
sobre a base de hipóteses apriorísticas que interferem, para bem ou para mal,
na visualização do fenômeno.
A questão é: Evidências não falam por si só, e por isso, o
essencialismo-aristotélico-evidencialista está equivocado. Não é possível
perguntar "Será que a
Evolução ocorreu?" e
então "imparcialmente" e de maneira "neutra", amontoar as
evidências numa balança e pesar os argumentos. Não há nem mesmo como provar só
com base nas evidências, por exemplo, (i) que o mundo existe; (ii) que o mundo é tal qual o
conhecemos; (iii) que existe causalidade no mundo;
ou (iv) que o tempo e o espaço existem na
realidade.
O evidencialismo-essencialista é incapaz de por si mesmo,
sustentar qualquer afirmação sobre a realidade. Não há como saber, por
evidências somente, se tudo é criação da nossa mente ou se tempo, espaço e
causalidade são só categorias da nossa consciência e, mesmo que o Universo
exista, é impossível provar por evidências que nós temos capacidade de
percebê-lo como ele realmente é ou se o Universo se manifesta a nós tal qual
ele é. Um cartesiano rígido poderia apelar para a suficiência
do ego cogito e descartar totalmente a
existência do Universo externo, reduzindo tudo ao eu cognoscente. Um kantiano poderia argumentar que a realidade
em si (noumena) é incognoscível e que apreendemos somente o phenomenal. Tempo, espaço e
causalidade seriam somente categorias a
priori da mente. A despeito
dos problemas filosóficos que possam haver nessas abordagens, elas ilustram
como as evidências não falam por si só. Todas essas crenças precisam ser
pressupostas como verdadeiras, isto é, assumidas por fé.
Na verdade, o Evolucionismo depende do método científico
que toma emprestado noções desenvolvidas pelo pensamento escolástico.
Concepções como, termos uma mente capaz de interpretar a
realidade, a existência de um mundo logicamente organizado passível de ser
conhecido e a existência de uma rede de conexões reais de causalidade a serem
explicadas, foram desenvolvidas pela filosofia escolástica – tomista. Essas
noções só faziam sentido em uma Cosmovisão que admitia Deus como fundamento
referencial. Assim, o Evolucionismo abraça implicitamente pressupostos cristãos
a fim de pervertidamente construir uma filosofia com implicações
epistemológicas, metafísicas e éticas anticristãs.
Que o Evolucionismo é produto de um contexto filosófico, e
não de evidências e dados brutos, fica claro se olharmos o espírito dos séculos
que precederam a Primeira Guerra Mundial. Há, no zeitgeist , a doutrina do progresso, segundo
a qual a humanidade, agora livre da religião medieval, estava destinada a evoluir para um futuro glorioso. O Evolucionismo
(evolução das espécies) é mais uma filosofia do progresso ao lado do
Positivismo (evolução da ciência), do Marxismo (evolução
histórico-econômica), do Kardecismo (evolução dos espíritos) e do
Darwinismo social (evolução das culturas). Assim,
há fundamentos filosóficos, anteriores à evidência, sobre os quais o
Evolucionismo, como qualquer outra teoria, se sustenta.
Alguns podem arguir e dizer que o evidencialismo não
necessariamente nega os fundamentos a
priori do conhecimento.
Certamente isso pode ser verdade, mas aqui o evidencialista-essencialista
precisará admitir que não se pode provar esses fundamentos apriorísticos por
meio da evidência. Mas a questão é que uma investigação mais apurada dos
"pressupostos" por traz do Evolucionismo revela que eles são mais
propriamente pré-conceitos supra-teóricos do que axiomas fundamentais.
Quando se pensa que se pode olhar para as evidências e com
base unicamente nelas definir se o Evolucionismo está ou não correto, cai-se
praticamente num indutivismo ingênuo. O Evolucionismo pretende-se uma teoria
universal sobre a origem das espécies, mas é impossível estabelecer verdades ou
teorias universais com base na observação empírica. Uma teoria universal não
pode ser deduzida da observação, isso seria uma falácia de generalização
conforme apresentou David Hume com as ilustrações da observação de só cisnes
pretos não refutar que existam cisnes brancos e do fato de que observar o sol
nascer todos os dias não garante que ele nascerá amanhã, não importa por
quantos anos a humanidade observe isso. Além disso, há o problema das
delineações epistemológicas - o que define quantas observações são suficientes?
E como e em quais circunstâncias se deve fazer essas observações? Outro
problema é como saber quando se deve rever a teoria para que ela se adéque à evidência e quando se deve rever a
interpretação da evidência para que ela se adéque à teoria?
O fato de que o significado da evidência é doado por uma
teoria hermenêutica, não existindo encerrada na evidência mesma, pode ser
exemplificada de alguns modos, por exemplo, o Archaeopteryx
lithographica, pode se ajustar, tanto ao conceito neodarwinista de espécie
transicional, quanto à ideia de espécie mosaica; a similaridade genética e até
fenotípica entre algumas espécies, poderia ser entendida tanto como evidência
de ancestralidade comum como de design comum. As evidências são
como pontos que podem ser ligados coerentemente por diferentes traçados
(teorias).
Para salvar o evidencialismo-essencialista, poder-se-ia
argumentar que seria possível testar essa teoria por meio da falsificação e
determinar sua validade. Mas isso ainda está pressupondo que as evidências têm significado
auto-incluso independente da Consciência significante. Há outros problemas no
falsificacionismo. Logicamente não há como provar que se deve rejeitar uma
teoria falível com base na observação, isso porque a observação também é
falível. Em alguns casos a Ciência precisa rejeitar proposições de observação,
ao invés de revisar uma teoria. Teorias geralmente consistem em um complexo
muito maior de afirmações. Assim, uma teoria não poderia simplesmente ser solapada por outra, porque o erro pode estar
numa parte da complexa situação do teste que seria necessário para
falsificá-la. A ideia falsificacionista de progresso da Ciência, também, não se
mostra muito exata. A Ciência muitas vezes teve que continuar sustentando
teorias mesmo indo contra as observações, e isso posteriormente se mostrou algo
bom.
Outro argumento a favor de uma visão
evidencialista-essencialista de Ciência poderia ser que, embora não possamos
determinar absolutamente, pela evidência, a validade de uma teoria, poderíamos
fazê-lo probabilisticamente. A
ideia do probabilismo é que quanto maior o número de observações mais provável
e verossímil será uma teoria ou generalização dela resultante. Mas aqui
entramos num raciocínio circular, a afirmação de que quanto maior o número de
observações mais provável e verossímil será uma teoria ou generalização dela
resultante, já é uma teoria
que está pressupondo o probabilismo, por pretender ser uma teoria universal ou
geral. O argumento está empregando um tipo de justificação que é justamente o
que precisaria ser justificado. Além disso, a probabilidade de qualquer teoria
universal é sempre 0 (zero).
Estabelecido que não é possível avaliar rigorosamente a "cientificidade" de uma
teoria pela evidência empírica somente, é necessária uma análise
pressuposicional rigorosa que deve determinar a validade dos pressupostos teóricos
que estão por traz do Evolucionismo. Uma ilustração pode ajudar: Um castelo
está construído sobre alguma base. Vamos considerar que esse castelo são os
argumentos e evidências. Os
evidencialistas-essencialistas avaliam os tijolos do Castelo, mas o que eles
deveriam era investigar os pressupostos dos quais dependem esses argumentos e
evidências. Não é necessário atacar cada “tijolo” do Castelo, basta “puxar seu tapete” ou sua “base” para que ele desmorone.
A apologética precisa ir além do que atacar
só tijolos. A apologética clássica, também baseada no
evidencialismo-essencialista, acaba por fornecer apenas uma "certeza
empírica" para a existência de Deus. No entanto, uma "certeza
empírica", diferente de uma "certeza apodítica", nunca é uma
certeza absoluta. A apologética reformada, por outro lado, admite Deus como
pressuposto absoluto e necessário para o conhecimento, isso porque é logicamente impossível conhecer
qualquer coisa sem pressupor o Deus cristão.
Por fim, podemos definir Ciência, inicialmente e grosso
modo, como aquela hermenêutica sistemática da realidade que tem clareza dos
seus pressupostos e que se fundamenta sobre bases estabelecidas firmemente por
uma rigorosa investigação ontológica, “arqueológica” e epistemológica. A Ciência é aquele
conhecimento que contempla os fenômenos da realidade a partir da Cosmovisão
correta, cujos fundamentos lhes estão "à mesa". Esta interpretação só
é possibilitada por uma visão de mundo que doe os significados corretos. E esta
Cosmovisão é a visão de mundo fornecida pela Escritura. Portanto, sendo mais
específico. Ciência é a
interpretação da realidade conforme a Cosmovisão fornecida pela Escritura. Essa noção de Ciência não despreza
as evidências, nem deslegitima as ciências ônticas (biologia, física,
química, geografia, psicologia, sociologia, etc.), antes lhes estabelece
justificativa epistêmica na única base ontológica fundamental capaz de
possibilitá-las.
Podemos concluir dizendo que o Evolucionismo não é Ciência. Evolucionistas não têm clareza dos
seus pressupostos, que lhes permanecem inconscientes, seus axiomas são, na
verdade, pré-conceitos supra-teóricos e eles partem de um pensamento
evidencialista-essencialista que, como demonstrado, é falso.
NOTAS:
1. Quanto à questão do evidencialismo-essencialista e a
teoria evolucionária, fui inspirado pelo artigo: "Can
we trust the Bible over Evolutionary science?"
2. Observações epistemológicas sobre o Indutivismo
ingênuo, o Falsificacionismo e o Probabilismo foram baseadas em: Chalmers, Alan
Francis. O Que é Ciência
afinal?
4 comentários:
Oi, de novo. Kkkkk...
Queria saber sua opinião: pode-se dizer que o evolucionismo seria um tipo de tentativa ao responder às questões últimas do ponto de vista dos materialistas? Porque eu tenho percebido que a maioria dos evolucionistas têm feito isso.
Olá, Yasmin. Então, o Evolucionismo neodarwinista está comprometido com o naturalismo filosófico, que pressupõe que tudo possa ser explicado por meios naturais, se opondo a qualquer ideia de que algo possa existir além do mundo material. Nesse sentido, o Evolucionismo é materialista.
Entendi. Obrigada! ☺
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